quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Rodadinha

- Celso?

- Fala.

- Você acha que eu engordei?

- De jeito nenhum!

- Celso, desliga do automático e olha pra mim, pelo menos...

- Oi?

- Você acha que eu emagreci, to na mesma, ou engordei?

- Hum... qual é o referencial? (#newton)

- Desde que entrei na academia.

- Que foi...?

- Há um mês.

- Deixa eu ver... dá uma rodadinha...

- ...

- Dá outra rodadinha...

- ...

- Ah, você ta no ponto.

- Ah, Celso! Só porque eu dei duas rodadinhas não quer dizer que eu sou frango de padaria pra você dizer que eu to no ponto!

- Olha... eu traço.

- Bobo... Hoje eu me pesei na balança de precisão lá no laboratório...

- E aí?

- Ah, parece que eu perdi um quilo e meio, mas não vejo diferença. Que que você acha?

- Hummmmm. Acho que você emagreceu sim.

- Sério?

- É, ué.

- Onde?

- Ah... no corpo.. como um todo uniforme.

- Ah, no corpo é? Onde mais eu poderia emagrecer?

- No rosto!

- Sei... estas rodadinhas foram pra você ver como ficam minhas bochechas quando estou de costas?

- Ana, eu convivo com você, te vejo todos os dias, então não consigo perceber as diferenças sutis...

- Quer dizer que, se eu tivesse engordado um pouco, você também não perceberia?

- Oi?

- Se é por causa da convivência, você também não perceberia se eu engordasse né? Se eu tivesse engordado você falaria?

- Falaria.

- Certeza?

- Opa, certeza.

- Mesmo se isto machucasse meus sentimentos, uma vez que eu poderia pensar que você não me desejaria mais...?

- Não é bem assim...

- Você me falaria, considerando a possibilidade de eu ficar propensa a me lançar num transtorno alimentar, e passasse a vomitar pelos cantos?

- Cruz credo!

- Mesmo se eu ficasse insegura em relação a minha aparência, e assim, ficaria depressiva, a ponto de a gente sofrer um hiato sexual?

- Bem, olhando daqui, eu acho que você deu uma boa emagrecida na barriga!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Que história é esta de Enrico?

- Ana, que que cê acha...
- (tampa o bocal do telefone) Peraí, benhê, to no telefone... (ao telefone) Mas Su, pode ir sem medo que o Enrico é maravilhoso.
- ...
- (ao telefone) ‘Magina! Ele vai te deixar super segura, você vai ver!
- Quem é Enrico? Ana... Ana...
- (tampa o bocal do telefone) Shhh, amor! (ao telefone) Su, eu já estive com ele umas quatro, cinco vezes, e todas vezes eu tive certeza de que tava fazendo a coisa certa.
- Coméquié?!
- (ao telefone) Nossa, o dele é enorme! Se fosse pra me meter em qualquer mafuá, eu não ia não. Se bem que por ele, eu iria...
- Ana, desliga esta m*rda que eu já to ficando pluto.
- (ao telefone) Peraí, Su, só um momentinho... (tampa o bocal do telefone) Celso, dá licença! Eu não fico falando no seu ouvido quando você ta no telefone com seus amigos! (ao telefone) Enfim, Su, ele tem um mão maravilhosa.
- Que que é isso?! Que absurdo é este?!
- (ao telefone) A mulherada disputa por ele, né? E você sai de lá nas nuvens. E tem coisa melhor pra uma mulher? Hahahahaha!
- To achando graça nenhuma...
- (ao telefone) Vai por mim, eu conheço o negócio! Hahahahaha! Pode ficar tranqüila, sempre confiei no Enrico pra me ajudar nas minhas loucuras. Hahahahaha!
- Pultaquemeparil...
- (ao telefone) Beijo, amiga, tchau! (desliga) Caramba, Celso, você tem PhD em chatice, hein?
- Que história é esta de Enrico?
- Que que tem o Enrico?
- Que porr@ é essa? Acha que eu não escutei?! ‘Ah, Su, ele tem uma mão maravilhosa’!
- E tem mesmo!
- Ana, Ana, Ana... não me enfurece...
- Amor, ele é o melhor, não tem como negar!
- E você fala assim, na minha cara?!
- Amor, qual o problema?
- Qual o problema?! Que tal você ficar dizendo por aí que o dele é enorme?!
- Amor, mas é o maior que eu já vi!
- Ahhhh, é mesmo?!!!
- Aham...
- ... Quanto?
- Ah, Celso, ta querendo demais né? Eu não vou ficar medindo, né? Não vou ficar que nem uma palhaça no meio do salão, contando os passos pra saber das dimensões do lugar!
- Salão?
- É, agora ele tem um salão. Amor, o salão é enorme, se bobear, é o maior do Rio...
- Como assim? Ele... fica num salão?
- Alo-ôoo, cabeleireiro, salão, tesoura, cabelo. Ou você achou que o Enrico atendia num posto de gasolina?
- Aaaaaaaaah tá...
- Peraí, você queria saber o tamanho do quê?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Fofoland.

- Você tem olhos lindos...
- Ah, que isso.
- É sim, verdade. Eles são tão brilhantes.
- Eles ficam assim quando vêem seu sorriso.
- Linda (*smack*)...
- Você que é lindo.
- E você tem um jeitinho tão bonitinho de falar...
- Você acha? Acho minha voz tão aguda...
- Ah, é bonita sim.
- Sua voz é que é uma coisa. Me derreto toda quando você me liga.
- Então vou te ligar mais.
- Pode ligar!
- Você parece uma bonequinha.
- Assim você me deixa sem graça.
- Que bonitinha, ficou com a bochecha vermelha!
- Ai, estas bochechas me denunciam...
- Este perfume que você usa... é muito bom.
- Você é que cheiroso.
- E você é macia...
- Sério? Então to precisando malhar.
- Não, não é isto. Só quis dizer que você é delicadinha...
- Ah, ta... Hehe! Ai, Celso, você fica me elogiando... eu fico sem jeito.
- Que fofa.
- Você acha mesmo que eu to gorda?
- Oi?
- Não sabia que você gostava de mulher gordinha...
- Linda, não to te entendendo...
- Mas assim, é tara isto?
- Ã?
- Você tem fixação em mulher gorda ou foi só comigo?
- Gorda? Onde? Só se for nas bochechas!
- Certeza?
- Aham. E você acha que eu sou assim, só me importo pelo físico?
- Ah, não sei, né... tenho uma amiga que adora homem suado, e tem outra que acha nariz grande uma loucura.
- Mas você não é nariguda, não é suada, você é linda, tem um jeitinho meigo de falar, é toda delicadinha e é muito fofa!
- Muito?
- Aham, muito.
- Ai, meu Deus, eu preciso emagrecer.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Papo quente.

- Amor, se um dia nossa casa pegasse fogo, qual a primeira coisa que você salvaria?

- Hum, meu laptop.

- Como assim? E eu???

- Confio que você é espertinha o suficiente pra sair com seus próprios pezinhos do apartamento.

- Ah, é verdade... Mas assim, e se eu não estivesse em casa?

- Meu laptop, ué.

- Ai, que chamego com este laptop! Que que tem de tão importante nele?

- Nossas fotos...?

- Ouuuuuuum, como você é fofo, amor! Depois disso, o que você salvaria?

- Você não tá planejando botar fogo em alguma coisa, né?

- Não, é só pra saber o seu nível de apego com algumas coisas.

- Já vou avisando que a gente não tem seguro...

- Vai, me fala, depois do laptop...?

- Hummm, meu videogame!

- Sério?

- Sério.

- Coisa nerd!

- Meu celular, então.

- Cruzes...

- Ai, ai... Ana, seja direta. Onde você quer chegar?

- É que to achando que você se importa muito com umas coisas tão... dispensáveis.

- Laptop e celular hoje em dia são indispensáveis!

- Isso tudo que você falou, o dinheiro compra depois. O mais razoável é correr atrás das coisas que têm valor afetivo, né? Por exemplo, muito legal da sua parte pensar nas nossas fotos.

- Bom, seguindo este pensamento... Deixa eu pensar.... Ah, minha camisa do Flamengo!

- Por que que o assunto futebol deixa os homens com um jeito meio de bocó?

- Mas minha camisa do Flamengo tem muito valor afetivo!

- Humpf, esperava que você salvasse, depois das nossas fotos, os presentes que te dei, mas tudo bem, cada um sabe das suas necessidades. Quem sabe, você pudesse salvar algumas coisas minhas, como meu vestido de noiva, a colcha que minha avó fez pra gente, enfim, estas coisas que você sabe que são importantes pra mim.

- Ta, Ana, eu salvo. Assim que eu vir a primeira faísca, eu vou pensar: “o que minha querida esposinha gostaria que eu salvasse, nessa minha atitude heróica que é salvar nossa história?”.

- Jura? Promete?!

- Juro.

- Ai, que fofo! (*smack*)

- Vou pegar vestido, a colcha, o diário de quando você tinha 12 anos...

- O disco do Justin...

- Dispensável! Isso o dinheiro compra! E eu pago pra você não ouvir isto de novo.

- Mas Bryan Adams edição limitada é um tesouro! Este você tem que pegar!

- Tá, que mais? Só não sei se vou ter mão pra carregar tudo isso.

- A bolsa.

- Que bolsa?

- A minha bolsa Prada.

- ...

- Eu sou muito apegada a ela! Na verdade, segundo o cartão de crédito, tenho que ser apegada a ela até julho do ano que vem...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Simpatia e blablabla

- E aí, gostou da festa?
- Aham, mas fiquei vidrada na bolsa Prada daquela mocinha...
- Que mocinha? Aquela baixinha, meio loirinha?
- Aquela loirice se chama luzes, meu bem.
- Ah, isso eu não tenho como saber. É a Ariana, secretária nova.Vi que você ficou batendo papo com o Edu um tempão...
- É Eduardo o nome dele?
- Aham. Simpático, não?
- É, simpático, mas fala muito.
- É? Nunca percebi.
- Nossa! E como fala! Pra você ver, de tanto que ele falava, nem consegui guardar o nome dele! O cara entra no meio do assunto, vai puxando outro assunto e quando a gente vê, já ta há uma hora conversando com a mesma pessoa no meio de uma festa, onde na verdade você deveria estar falando com outras pessoas. Afinal, né, esta é a intenção da festa: agrupar as pessoas, fazer com que elas passam um tempo agradável juntas, possam se conhecer melhor... A Ariana por exemplo. É simpática com moderação: perguntou o que eu fazia. Aí eu comentei que trabalhava num laboratório, e o Edu começou a falar do primo dele que adorava química, fez farmácia, criou um cosmético ótimo, ta ficando rico, comprou uma casa em Búzios... Ta entendendo? O Edu tem esta mania de sempre dar um pitaco no que a outra pessoa tá falando, e vai emendando, emendando, emendando um comentário no outro! Isso cansa! Isso não é legal, é monopolizar o assunto, faz parecer que as outras pessoas não têm algo interessante pra falar! Poxa, às vezes a pessoa fala algo só pra puxar papo com a outra, afinal, não se conhecem bem, mas ele faz questão de falar algo que parece mais relevância que o que a outra pessoa ta falando, como se dominasse todos os assuntos. Às vezes você dá trela só por educação, para ser elegante e ouve o que a outra pessoa tem a dizer... mas tem que ter um semancol! Não pode toda hora falar, e falar, e falar... parece que tá apresentando um programa, em que a platéia só tem que ouvir! É quase um monólogo! E todo mundo sabe que monólogo é chato, né?
-Talvez ele...
- Ah não! Você tinha que ver! Ele é tipo Faustão! Interrompe sem mais nem menos! A gente ficou meio desconcertada quando ele fez isto pela segunda vez, mas depois resolvemos deixar ele falar, quem sabe ele se tocasse que não tava agradando muito com aquele blablabla? Teve uma hora que eu até pensei em fingir que o telefone tava tocando pra poder me afastar da rodinha e não ouvir a voz dele por uns dois minutos! Você não imagina como é chato ficar ouvindo a mesma voz constantemente por mais de cinco minutos!
- Imagino sim.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Jaiminho (2)

- E se for menina, amor?
- Se for menina, eu quero que tenha o nome da minha avó.
- Como ela chamava mesmo?
- Antonieta.
- Jamáaaas.
- Qual o problema, Ana?
- Antonieta? É nome de rainha louca. Deixo não.
- Mas vai ser menino.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Eu sinto. Na hora do “bang”, eu senti que era menino.
- Ah, tá, sei... To achando que vai ser uma menininha. Ai que linda! Vou prender o cabelinho dela assim, ela vai andar com uma roupinha toda rosa, de lacinho, de bolsinha...
- Cruzes! Desse jeito, vamos chamá-la de Árvore de Natal, que que ‘cê acha?
- Ué, podia ser Natália.
- Não.
- Por que não?
- Não gosto de Natália.
- Por quê?
- ...
- Anda, Celso.
- Porque eu já namorei uma Natália...
- Não sabia...
- Namoradinha de colégio.
- Bonita?
- Ana, é passado...
- Bonita?
- É.
- É ou era?
- Era.
- Tem certeza?
- Tenho, Ana! E vai ser menino e vai ser Celso Júnior.
- Celso não.
- Por que não?
- Ah, pensa bem. Na maternidade, os bercinhos todos, lado a lado: um Cauê, um Rodrigo, um Rafael, aí vem um Celso?!
- Que que tem? É um nome com personalidade!
- Celso é nome de adulto, né? Celso é nome de bibliotecário, de funcionário de cartório, de secretário de saúde...
- Celso, pô! Nome forte! “Olá, meu nome é Celso”. Poha, macho pra kct. Não tem no feminino, não tem essa de Celsa...
- Sei lá, me remete a gente velha. Fico pensando no Benjamin Button, no nosso baby nascendo já velhinho.
- Celso é fo-da! Você sabe o significado? É latim, quer dizer altivo, alto, elevado!
- Sei lá, Celso não me passa esta idéia, é meio borocoxô.
- Você sabe meu nome, não sabe?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Djavan (n+2)

(cont.)

- Tá, esta parte do dialogozinho é estranha, mas olha: “Soltar esta louca, arder de paixão” não te diz nada? Nada?! O cara tá na pior, na seca, ele quer mais que a menina se descabele, incorpore a louca!
- É, pode ser...
- “Não há como doer pra decidir”. Novamente, coisa de homem, porque, né, meu querido Djavan, dói depois de decidir!
- Sabe, eu devia ter descoberto esta música antes, quando eu tinha uns 15 anos! Ia comer todo mun...
- Celso Henrique, Celso Henrique!
- Ana, Djavan só pode ter feito esta música pra ajudar os caras a traçar as menininhas! Não tem outra explicação.
- Não parou por aí! Chega uma hora que o cara fica puto com a menina, porque ela fica fazendo doce: “Eu levo a sério, mas você disfarça”.
- Hum...
- “Você me diz à beça e eu nessa de horror”: a garota não pára de dar desculpas enquanto o cara já ta revirando os olhos.
- É...
- E fica tão emputecido que começa a colocar a culpa na menina, porque não ta tendo muito atividade nos trópicos: “E me remete ao frio que vem lá do sul”...
- É...
- E depois, fica pior: o cara apela pra zoofilia.
- O quê?!
- “São Jorge por favor me empresta o dragão”! Celso, na conjuntura do cara, a primeira coisa que pintar na frente dele, ele traça! Não interessa se é mulher, ser rastejante, vai com o dragão mesmo!
- Ana. Dorme. To ficando preocupado com seu juízo.
- “Mais fácil aprender japonês em braile”... Entendeu? Punheteiro! O cara já ta com tanta prática nas mãos... que é capaz de aprender japonês em braile!
- Meu Deus, de onde você tira isso tudo?
- “Do que você decidir se dá ou não!”. Eu dava pro cara só por medo do que ele faria com o pobre do dragão!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Djavan (n+1)

- Celso, sabe no que tava pensando?
- Em gelatina?
- Não, naquela música do Djavan.
- Do deserto amarelo?
- Não, ‘Se’.
- ‘Sí’? Ele ta cantando em espanhol?
- Não, ‘Se’, condicional.
- Que que tem?
- É meio esquisitona, não acha?
- Ihhh, lá vem você.
- Sabe quando te dá um clique na cabeça, e você percebe a mensagem por trás da música?
- ...
- Tipo, ‘Segura o tchan’.
- ‘Segura o tchan’ não tem como ser mais escancarada!
- Se fosse tão escancarada, eu não teria dançado esta música com tanta empolgação no alto dos meus 13 anos.
- Pouts, Ana, antes de me conhecer você era muito miqueira...
- Esquece. Vamos lá, primeiros versos: “Você disse que não sabe se não. Mas também não ter certeza que sim”.
- Ok... e?
- Celso! Acorda! É música sobre um cara que quer tirar a virgindade da menina!
- Onde você viu isto?
- A menina é virgem, só que ta com medo. Aí o namorado dela, safado, fica tentando convencer ela.
- Ana, você pensa demais.
- Celso, segue meu raciocínio. Juro que estou embasada.
- Continua então... quer ver onde vai dar.
- Exatamente, ‘onde vai dar’. “Você sabe que eu só penso em você, você diz que vive pensando em mim”. Só homem pra praticar este tipo de chantagenzinha...
- Ok, faz um pequeno diminuto sentido.
- Aí ela fala: “Pode ser, se é assim”.
- Ah, ta! Djavan fez a música com um dialogozinho no meio?


(continua)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tcharã

- “Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô. Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelaaaaas”! Tcharã!
- Ana... que que é isso?
- Minha fantasia!
- É de mendiga?
- Não!
- Doida?
- Cigana!
- É, só por adivinhação mesmo...
- Chato! Eu adorei.
- Precisa desses penduricalhos todos assim?
- Aham.
- Fica fazendo barulhinho de mimosa, sabe? Daquelas vacas com sino no pescoço.
- Credo, Celso Henrique! Eu achei que você ia adorar.
- Você tá bonitinha...
- Não ouvi!
- Tá bom, você tá linda!
- Adoro sua sinceridade! Quer ver a sua fantasia?
- Eu já tenho! Você ta indo com o choppe, eu já to voltando de ressaca! Vou de surfista. Só colocar bermudão e chinelão!
- Nada disso! Coisa sem graça! Tem que ter criatividade! Por isto, a mamãe aqui mandou fazer.... tcharã!
- Peter Pan?!
- Não, tolinho! Corcunda de Notre Dame! Duplinháaaa!
- Pultaqueoparil, né?
- Qual o problema?
- “Qual o problema?!” Você ta indo de barriga e pernas de fora! Qual minha moral em ir de deformado e corcunda?
- Que exagero! Celso, alô, super original! A gente vai ganhar o prêmio de dupla fantasiada!
- Do quê?!!!
- Ah, não, tem que estar animado!
- Me animar, como? Se é possível de o povo ainda apoiar o copo de cerveja nas minhas costas?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha tia

- Alô!
- Celso Henrique de Matos Caludo. Onde o senhor está?
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Onde você está?
- Onde eu to?
- Não me responde com pergunta!
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Celso. Onde você tá?
- To saindo do trabalho.
- Mentira! Liguei pra Ariana já faz uma hora e ela disse que você saiu!
- Na verdade, eu to no caminho de volta do trabalho.
- Que barulho foi este?
- Barulho?
- Não me responde com pergunta!
- Não sei! Foi um troço aqui!
- Onde você ta, Celso? Você está me cansando. Eu estou sem paciência.
- Eu dei carona pros caras, aí...
- Que “caras”?
- Os... caras.
- No-mes.
- Ah, o Edu, o Flavio... o...
- Tem mulher no meio?
- Não! De jeito nenhum!
- Hum, sei... que que foi isso?
- Isso o que?
- Porque você ta respirando ofegante?!!!!
- Eu?
- Não, a $%#%& da minha tia!
- Quê?
- Celso, me fala: você está num prostíbulo?
- Hein?! Claro que não!
- Tem certeza? Vamos ser adultos e encarar isto de frente.
- Ana, que absurdo!
- Você ta numa boate de strippers?
- Ana!
- Estou tentando ser uma mulher centrada e moderna. Quero apenas a sua sinceridade para que esta relação tenha futuro.
- To jogando bola.
- O quêeee?
- Jogando bola.
- Eu vou te mataaaaaaaaaaaaaar, desgraçaaaaaaaado!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ranger

- Alô?
- Oi, amô-ô!
- Que que houve? Quando você me liga cheia de firula é porque quer pedir algo ou porque fez merdinha...
- Cruz credo, Celso Henrique, um bom dia pra você também!
- Fala, Ana.
- Sabe retrovisor?
- Sei.
- Sabe seu carro?
- Sei. Que que houve?!
- Então, seu carro não tem mais retrovisor.
- Como assim?!
- Eu tava tirando o carro da garagem, o féladapulta do 304 estacionou o Ranger dele bem na frente!
- Ana, Ana, Ana...
- Sabe, Celso, o Ranger é muito grande, e o cara nem deixou espaço pra manobra, aí...
- Eu já falei para você tratar meu carro como se fosse seu cabelo, Ana! Pultaqueoparil.
- Deixa eu terminar, senhor esquentadinho?
- Pultaqueoparil, meu carro, Ana! Você sabe o cuidado que tenho com ele! Não posso deixá-lo um dia na sua mão que você tem que destruir alguma coisa! Não é possível!
- Aí, quando saí do prédio, três homens cercaram o carro.
- Ã???
- Eles tinham acabado de assaltar uma loja, roubaram seu precioso carro...
- Meu Deus!
- A polícia soube do assalto, recolheu informações dos assaltantes e descobriu que eles eram uma facção master criminosa. Perseguiram os caras...
- E aí?!
- E aí que eles perderam a direção do carro. Perda total, lindo. Capotaram, voaram corpos para tudo que é lado. Sangue, tripa, globo ocular...
- Ana, você ta bem?
- To ótima, você que não tá: acharam que você tava dentro do carro, porque um dos ladrões ficou deformado, aí você foi dado como morto. Ligaram pra sua mãe...
- Sério?
- Claro que não, Celso Henrique! Isso pra você aprender que um retrovisor não é tudo na vida!
- Carálio, Ana, eu vou... pultaqueoparil, você quase me mata do coração!
- Desculpa, benhê, mas olha: o Ranger é muito grande! Você devia dar um chega-pra-lá no cara do 304. Muito abusado pro meu gosto!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A maldade está na cabeça das pessoas

- Vai pro lado, Celso.
- Pra cá?
- Uhum. Ahm, não... mexe pro outro.
- Assim?
- Aham. Não aconteceu nada... mais pra frente.
- Ê ê ê, se decide.
- Não sei... tem alguma coisa errada! Não era assim...
- Ó, vou fazer do meu jeito.
- Assim você vai quebrar! Ta apertando com tanta força!
- Ué, sempre apertei assim, é o jeito que funciona.
- Eu vou toda delicadinha e sempre deu certo...
- Se liga e aprende com toda a habilidade do mestre!
- Aham, mestre, ta, sei...
- Eu sei que sou o melhor nisso, são anos de prática.
- O fato de você ter mais prática que eu não significa muita coisa.
- Como não? Eu sei de todos os segredos!
- Mas aquela madrugada que a gente virou, eu me saí muito melhor que você!
- O que você considera... melhor?
- Ah, tudo, todo o conjunto. Você babou na minha performance, nunca imaginou que eu conseguiria chegar até o final.
- No começo você tava mal, mas na segunda vez melhorou, mas só um pouco.
- Ah, eu fui ótima, confessa! Era minha primeira vez, eu nunca tinha tentado!
- É... pra primeira vez... foi satisfatório.
- Hahaha, Celso, você precisa se ver! Aos poucos você vai mexendo pro lado, depois pro outro, vira língua!
- Tá, tá, se você ficar falando, vou perder a concentração.
- Mas eu não vou ficar muda!
- Fala só o necessário, então.
- Você fica tão marrento jogando videogame...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Niver Fê (4)

- Ai, to tão cheia...
- Pouts, comi muito também.
- É tão ruim a gente se sentir assim...
- Ah, eu to muito bem! Pra quem comeu rúcula no almoço...
- To tão cheia, mas tão cheia que não consigo alcançar os pés pra tirar o sapato...
- Nem tento alcançar os pés. Já vou desabotoando a calça para aliviar aos poucos...
- Celso Henrique, você está desde que momento com esta calça aberta deste jeito?
- Desde antes do parabéns! Tava lotado já!
- Me mata de vergonha, Celso...
- Vergonha é o preço que este Porcão cobra. Tenho direito de andar com a calça desabotoada naquele lugar.
- Tão caro, né?
- Pô...
- Além de eu me sentir mal por ter comido tanto, eu fico mal pelos animais.
- Que animais?
- As vaquinhas, os boizinhos que morreram pra gente ir à forra de carne hoje...
- Agora você se sente mal, né? Tava lambendo os beiços comendo vaquinha e boizinho.
- Ai, Celso, aqueles animais têm família. Têm mãe, pai, filho... alguém se importava com eles...
- Se deram mal, to no topo da cadeia alimentar.
- Que insensibilidade... Logo quando a gente tava saindo, vi um casal comendo carne mal passada, tinha uma poça de sangue no prato... que dó.
- Dó, nada, que delícia, isso sim.
- Imagino aqueles animais comendo, pastando, sem saber o que o destino lhes reserva.
- Quantas caipirinhas você bebeu?
- Seis, mas eu to bem...
- Ahã.
- Imagino eles indo pro abate... dou muita razão pra estes grupos de protesto contra a matança dos animais. Taí, vou procurar uma ONG de proteção aos animais.
- Consigo imaginar você no meio de um protesto. Seria a primeira ser presa.
- Celso, é sério! É crueldade com os animais. A gente mata sem piedade no coração, só pro nosso bem estar, não é nem por necessidade! A gente não precisa comer aquele tanto de carne pra sobreviver!
- Ana, amor, lindinha... você comeu a média, afinal, comeu só folha no almoço, então equilibrou...
- Ai, to mal, vou lá no banheiro escovar os dentes pra dormir, isto se eu conseguir dormir... to me sentindo tão culpada! Vou até ter indigestão...
- Aproveita e passa o fio dental, pra tirar os restos mortais das vaquinhas que ficaram na sua boca!
- Seu bobo.... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Amoooooor!
- Quié?
- Vem cá matar um bicho, aqui! Anda logo! Ahhhhhhhhhh, ta vindo pra cima de mim!
- (Pá de chinelada!)...
- Argh! Que nojo! Odeio bicho.







Parabéns, Fê!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aquilo.

- Celso, ‘cê ouviu?
- Aham.
- Eles tão...?
- Tão!
- De novo?! Essa menina só sabe gemer na vida dela?
- Pelo menos, alguém se diverte nas noites de domingo né?
- Que que você falou?
- Você tá com inveja do pique dela...
- Shhh. Que que ela falou?!
- Falou “Ai, Everton!”.
- Tem certeza?
- Aham.
- Que que ela falou agora?
- Falou “Ai, Éeeeeeeverton”.
- Tem certeza?
- Ou Edson... Ou Epson...
- Que escândalo!
- Ah, que nada! Mulher às vezes tem que dar uns gritinhos mesmo! Deixa ela se divertir!
- Não é isso! O namorado dela chama Rubens!
- Ih, rapá, o mais novo corno do prédio! Do jeito que ela grita, todo mundo vai saber.
- Peraí.
- Onde você vai?
- Vou pegar um copo e colocar na parede, pra escutar melhor.
- Isso é sacanagem né?
- Tudo indica que sim, né!
- Nãaaao, to dizendo... você tem artimanhas para bisbilhotar o vuco-vuco dos outros?!
- Ah, Celso! Você nunca fez isto?
- A vida dos outros não me interessa, o jeito que os outros trepam não me interessa...
- Shhh! Fala baixo! Parece que tem mais alguém lá!
- Me dá este copo...
- Ué! A vida dos outros não te interessava!
- Eu to ouvindo sob protesto, pelo bem da informação. Eu escuto melhor que você.
- Ta ouvindo?
- To. É mulher! Que ma-ra-vi-lha! Duas mulheres! Nunca imaginei que nossa vizinha fosse tão safada!
- Celso Henrique! Pára de pular na cama! Isso aqui vai desmontar! Me dá o copo ...
- (pula pula pula)
- A outra não cala a boca, é do tipo que fala na cama.
- Que legal! (pula pula pula)
- Que gente estranha... pára de pular! Deixa eu ouvir!
- ...
- Ah, é a Patrícia Poeta! A tevê ta ligada!
- Ahhhh! Se fosse a Patrícia Poeta ia ser muuuuuuuuuuuito manero!
- Ficaram quietos.
- Ahm?
- Ai, Celso Henriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiique!
- Que foi?! Tá doida?
- Ela ouviu o barulho da cama e colocou um copo na parede! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh, Celso Henriquêeeemmmmmm!
- Você ta parecendo um gato que acabou de tomar banho de água fria.
- Colabora ou eu começo a gritar o nome de outro homem, e você vai ser conhecido como o mais novo corno do prédio!
- (pula pula pula).

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Niver Fê (3)

- Ai, Celso, vamos mudar de lugar?
- Vamos... mas por quê?
- To na reta de uma menina ali que eu não gosto.
- Que menina?
- Aquela dali de laranja... vamos, chega pra lá. (*swap*) Quero evitar o contato visual desta Medusa.
- Não conheço a Medusa.
- Ih, é das antigas... Insuportável.
- E o que ela fez?
- Nasceu.
- Mas o que ela te fez?
- Quando eu tinha 7 anos, a gente morava no mesmo prédio. Em um dos aniversários dela, ela fez uma festinha da pizza e não me chamou.
- E...?
- E quando a gente tava na 6ª série, ela quebrou a perna e não fazia educação física. Ficava de fora, só rindo da minha cara. Palhaça, eu não tenho culpa de ser descoordenada! É de família!
- E...?
- E quando eu fiz 15 anos, eu pedi pra minha mãe o intercâmbio pros EUA, e ela me copiou: pediu a mesma coisa pra mãe dela. Eu não fui, e ela foi.
- Nossa, quantos motivos relevantes! Esse ódio é semelhante aquele que motiva o conflito entre judeus e palestinos!
- Ah, Celso! É coisa de mulher. Você nunca vai entender.
- Fala sério, Ana! Você fica cultivando rusga com a menina desde o berçário! Tudo isso aí que você falou: só bobeira. Ela não roubou nenhum namorado seu, nunca te difamou, nunca...
- Ah, Celso Henriquê! Tá bom! Meu santo não bate com o dela porque ela come pizza, não faz educação física, morou nos EUA e sempre foi mais magra que eu! Satisfeito agora, satisfeito?
- É impressão minha ou ela está com o mesmo vestido que o seu?

domingo, 18 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fiu-fiu

- Oi, amor.
- Oi (*smack*)... que que foi que você chegou rindo?
- Nada não.
- Ana, Ana...
- Tá, vou te contar, mas você tem que me prometer que não vai ficar chateado.
- ‘Cê tá com cara de quem aprontou.... eu não vou prometer nada!
- Ah, mas eu vou contar mesmo assim.
- Eu sabia! Por isso que não prometi. Mulher não se agüenta!
- Sabe o prédio que ‘tão construindo aqui do lado ?
- Hum.
- Acabei de passar lá na frente, e ouvi um “Gostosa!”.
- Quem falou isso?
- Os pedreiros.
- Foi um coro? Uma torcida organizada?
- Tá, foi um só.
- Grande coisa.
- Ah, é? Você tá acostumado a ouvir um “Gostoso!” todo dia enquanto anda por aí?
- Não... eles só falaram isto porque ficam o dia todo perto de homem. Aí quando vê uma mulher, precisam provar pra outro que são machos mesmo.
- Mas era um “Ave Maria, que gostosa!”, exagerado, sabe?
- Exagerado? Pra mim é religioso isso aí.
- Como é que vou explicar? Era um “Gostosa!” no malandrês, meio carioca: “Goxxxxxxtoooooosa”!
- Bêbado é que exagera no ‘s’. Esses pedreiros aí devem estar cheios de pinga na telha.
- Ai, Celso Henrique, você é incapaz de reconhecer que eu to com tudo em cima!
- Calma, só to falando que ser chamada de gostosa por um pedreiro não devia ser levado muito a sério.
- Ué, por que não? Respeita a classe dos pedreiros!
- É que qualquer coisa é “Gostosa!” prum pedreiro. “Hum, que quentinha gostosa!”, “que sombrinha gostosa”...
- Ah! Você tá com ciúme porque, desde que eu parei de tomar pílula, eu emagreci e que ando chamando atenção!
- Emagreceu, não! Deixou de reter líquido!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fora da farmácia

- Corre!
- Corre nada, anda devagarzinho pra disfarçar!
- Então, apressa o passo.
- Ah, pára!
- Realizou seu sonho de adolescente, que é roubar uma loja?
- Ah, Celso, gastei uma baba nesta farmácia hoje, o esmalte é tipo brinde.
- E a delegacia é cortesia, né?
- Medroso!
- Não sei porque você teimou com este esmalte, você tem vários vermelhos lá em casa!
- Mas eu nunca tive um Hot Havana! É importado!
- Hã?
- Eu tenho o Toque de Ira, o Sublime Paixão e este aqui que estou usando é o Moulin Rouge.
- Vermelho.
- Têm sutis diferenças.
- Só se for o prazo de validade! É tudo a mesma coisa. Só vocês mulheres que ficam com estas frescuras.
- Que mal agradecido, Celso! Ai, como homem é absurdo! Nós mulheres ficamos lindas e maravilhosas, com as garras todas lindas pra vocês, e vocês teimam em fazer pouco caso do nosso capricho.
- Ana, unha é um detalhezinho.
- Não é não. Faço questão de mantê-las lindas e vermelhas.
- Vai ficar lindo o vermelho contrastando com o preto dos seus dedos quando você tiver de fichar suas digitais lá na delegacia.
- Ah, nossa operação foi bem realizada. Crime perfeito.
- Minha conta que vai ficar vermelha pra poder pagar um advogado pra me livrar deste crime perfeito...
- Besteira, amor. Já passou!
- Mas vermelho ainda vai ficar meu rosto, quando eu aparecer na capa do Meia Hora. Já to até vendo a manchete: “Ladrão de esmalte mostra as garras e é preso!”.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Niver Fê (2)

- Tsc.
- O quê?
- O que o quê?
- Por que você ta chateado?
- Eu?
- É.
- De onde você tirou a idéia de que to chateado?
- Você fez ‘tsc’.
- E o que que tem?
- ‘Tsc’ é a pior expressão do mundo.
- Ai, ai, ai. Lá vem teoria nova.
- ‘Tsc’ é a maneira de se expressar quando não quer falar pra quem está do seu lado que está irritado. Porque falar um pio já aumenta exponencialmente a irritação. E a pessoa pode te encher de perguntas e aumentar ainda mais a irritação.
- Olha, não sei de qual revista feminina você tirou esta informação, se foi Nova, Cláudia, Priscila, se foi da Carrapicho, mas eu to zen, to na paz, to um sossego só.
- Por que fez ‘tsc’ então? Não foi a toa.
- Bobeira.
- O quê?
- Lembrei de uma coisa.
- Fala!
- Não vai me esganar?
- Fa-la, Celso Henrique.
- Esqueci o presente e o cartão da Fê lá em casa.
- Ah, não!
- A gente saiu na correria...
- Poxa, Celso!
- Eu vou pegar o retorno e a gente pega rapidinho. Você pode ficar no carro.
- Não, deixa. A gente já ta super atrasado.
- Amor, não custa nada.
- Não tem problema, a Fê sabe que eu comprei o presente pra ela, vai saber que não é desculpa nossa ao chegar lá de mão abanando.
- Tem certeza?
- E a gente vai ter mais tempo pra pensar numa boa mensagem praquele cartão.
- Tudo bem, eu mesmo me desculpo com a Fê, ta? Dá um beijinho aqui.
- (*smack*)...
- Desculpa, tá?
- Uhum.
- ...
- Tsc.
- Tá bom, tá bom, vou pegar o retorno.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Jaiminho (p.i.) (1)

- Celso.
- Hm. Peraí, cinco minutinhos, to terminando aqui.
- Ahhhh. Eu to com deseeeeeeeejo!
- Mas eu to todo mal vestido, nem tomei banho ainda...
- Não é este desejo... eu quero comer gelatina.
- Ah, ta. Tem lá na geladeira, eu fiz ontem.
- Mas só tem de moraaaaango!
- E não serve?
- Não, eu quero de uuuuuva.
- Amor, em cinco minutos eu fecho uma conta aqui e vamos nós dois fazer a gelatina ta?
- Mas não tem gelatina de uuuuuuuva.
- Já procurou?
- Jáaaaaaaaaaaaaaa.
- Pouts, que dengosa...
- Amor, eu quero choraaaaaar...
- Calma, amanhã eu compro novecentas e trinta e oito caixas de gelatina e a gente faz todas ta?
- Mas, Ceeeelso, eu quero agora!
- Ana, tá tudo fechado.
- O Sendas é 24 horas.
- Ah, Ana, é sério? São onze horas!
- Tudo bem. Seu filho vai nascer roxo e com a cara do Bocão.
- Ana, Ana. Toda vez que você fala uma coisa dessas, minha pressão cai um pouco.
- Pouxa, tanto tempo que não como gelatina de uva...
- Ontem você queria miojo, hoje não quer?
- Não, quero gelatina. E quero agora.
- E se eu fizer miojo com requeijão por cima?
- Agora não adianta, né?! Nosso filho vai nascer roxo, com a cara do Bocão e com o cabelo do Biro-Biro.
- Peraí que vou colocar sal embaixo da língua...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Whatever

- Oi!
- Oi, amor...
- Cansado?
- Ô. (*smack*)
- Como foi a reunião?
- Bufff... foi “uó.”
- Quê?
- Foi muito chata.
- Não foi isso que você falou.
- ã?
- Você falou que a reunião foi “uó”.
- E foi mesmo.
- Hahahaha, você precisa se ouvir, Celso Henrique.
- Que que foi?
- Quem fala “uó” é mulher... ou bicha.
- Claro que não!
- É sim, confie em mim!
- Que besteira...
- Pensa bem: algum dos teus amigos fala “uó”?
- Ah, não sei, deve falar.
- Acho que não... Falar “uó” tem o mesmo peso de falar “me diverti horrores”.
- Qual o problema de “se divertir horrores”?
- “Horrores” também é expressão de mulherzinha.
- Ah, que isso! Preconceito besta ... é gíria, tá na boca de muita gente aí... a mídia usa, a novela usa, o trocador do ônibus usa, todo mundo usa.
- Mais ou menos, né? Com parcimônia!
- Pô, Ana! Papo brabo, ‘cabei de chegar, to puto, reunião chata pra kct...
- “Foi uó” ou foi “chata pra kct”?
- Chata, cansativa, um porre, uma merda, estressante, exaustiva, whatever!
- “Whateeeeeeever”?!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Niver Fê (1)

- Vamos, escreve aí uma mensagem bonita pra Fê.
- Por que eu?
- Porque eu já comprei o presente, você fica responsável pelo cartão.
- Mas a sua letra é mais bonita, escreve você.
- Você pode ditar que eu escrevo.
- Ah, Ana, você sabe que eu não sou bom com as palavras...
- Mas eu to sem inspiração. Poxa, colabora...
- Tá... que tal “Fernanda, feliz aniversário. Beijos, Ana e Celso”?
- Isso até minha afilhada sabe escrever!
- Mas é sincero. “Feliz aniversário” quer dizer que a gente deseja que ela tenha um aniversário feliz! É fácil de entender.
- Nossa, você ta parecendo a Sandy, explicando que o que é imortal não morre no final.
- E se a gente colocasse um poema famoso?
- Pode ser, mas qual?
- “A vida...”...
- “A vida...”? Que mais?
- “A vida é...” ou “Amar é...”...
- Você falou que a gente ia colocar um poema famoso. Se você não percebeu, você está compondo um poema completamente novo... Vamos simplificar, poeta. Que tal: “Fê, um super beijo e muitos gatos na sua vida!”, hein?
- Mas tinha que ser uma reflexão, né? Ta na hora da Fê ficar mais espiritualizada, afinal, ela vai fazer 28...
- Você ta com 29 e tá zero espiritualizado!
- É que com homem é diferente, a gente envelhece mais devagar.
- Você ta chamando a Fê de velha?
- Não, né?
- Quando você quer dizer que “homem envelhece mais devagar” você quer dizer “amadurece”, né?
- Ah, Ana... não vem com este papo brabo não...
- Humpf. Vamos retomar...
- “Fernanda, te desejamos...”
- Não quero saber se você desejar ela não!
- Ana, não complica, to buscando a palavra.
- Ah, bem! Acha esta palavra rápido que gente já tá ficando atrasado!
- Você devia ter comprado um cartão do Garfield! Já vem com mensagem escrita!
- Você gosta de tudo mais fácil!
- Ana, não tenho idéia do que vou escrever! Pra mim, a gente não entrega este cartão, presente já tá bom! Na verdade, estar presente já tá muito bom.
- Me dá este negócio aqui, seu preguiçoso! Vai vestir seu sapato! Nem sei que que vou escrever...
- Já sei! Escreve algum verso de música.
- Ok, mas qual?
- A primeira que você lembrar.
- Que coisa complexa...
- Uma que te inspire....
- (escreve) "Fernanda, Amar é um deserto e seus temores. Beijos, Ana e Celso”.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adriano ('cê tá me ouvindo?)

- Pra você nunca mais falar que eu não sou companheira.
- Ok, mas na hora do jogo não é hora de conversar, tá?
- Ta. Mas vai me explicando preu não pagar mais mico na frente dos seus amigos.
- Aquela foi fod@. Confundir o bandeirinha com torcedor invadindo campo...
- Celso, mas dava pra superconfundir! O cara levantava uma bandeira coloridinha, parecia que tava animando o time!
- Shhhh. O juiz vai apitar e vai começar. Muito simples.
- Mas por que que os jogadores não se posicionam de uma vez mais perto do gol onde eles tem que colocar a bola? Se eu fosse jogador já estaria lá perto há muito tempo!
- Porque não pode.
- Por quê?
- Ana, é tipo vôlei. Cada um tem um campo. Começa no próprio campo. Esta linha divide o campo como a rede divide o campo de vôlei, só que futebol não tem rede, tem esta linha.
- Tem rede sim senhor!
- ...
- A rede do gol!
- Ahhhh, Ana, claro que tem, mas não é a rede que divide o campo, que nem vôlei, tênis, pingue-pongue. Não tem a mesma função.
- Claro, isso deu pra sacar...
- ...
- Corre, corre!
- Você ta torcendo pra quem?!
- Pro Flamengo!
- Isto aí é o Atlético Paranaense. O Flamengo ta de branco.
- Ah tá... falha minha. E eles não se confundem não? Uma hora de vermelho, outra hora de branco...
- Não.
- Estranho. Se estiver acostumado com a outra roupa, vai jogar a bola pro cara do outro time...
- Shhh.
- Cadê aquele cara com cabelo do pica-pau?
- É o Leo Moura, tá machucado, não tá jogando.
- Ahhh, então não reconheço mais nenhum!
- Pô, tem o Adriano.
- Que Adriano?
- Pô, Ana, o Adriano.... este aí ó!
- Geeeente, como eu pude me esquecer deste Adriano?
- Ihhh, olha lá...
- Lembro dele na Copa de 2005!
- 2006.
- É, é... gente, que homão...
- Ihhh. Pode parar!
- Mas ele é enorme!
- Vai, porr@!
- “Vai, puxa vida”. Porr@ é feio, amor!
- Feio é este juiz féladapulta!
- Cruzes! Que agressividade...
- Tá vendo? Adora um cai-cai, marca tudo! Tem que deixar rolar, toda hora pára o jogo!
- Mas tem que esperar o outro levantar! Jogo é importante, mas é bom ser educado, tem tanta criança assistindo! Tem que dar exemplo!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ariana

- Aháaa, peguei!
- O quê?
- Tá checando minhas mensagens! Ciumenta!
- Tô nada!
- Tá vendo quem me ligou!
- Na verdade, eu ia jogar um joguinho, mas acabei sem querer caindo no registro de chamadas...
- Viu?! Depois eu que sou o ciumento da relação!
- Interessante, Celso, uma Ariana te ligou uma vez hoje, duas vezes ontem, uma vez na sexta à noite...
- É a Ariana, a secretária.
- Que secretária?
- Que substituiu a Glória...
- Ã.
- Ih, não vem com “ã” porque você conheceu a Ariana, na festa de fim de ano!
- Eu não lembro!
- Lembra sim, você tava naquela roda do pôquer, ela também tava.
- Lembro não...
- Ah! Já sei! Que foi dupla do Eduardo na sinuca.
- A dupla do Edu foi a Simone!
- Na primeira rodada, porque na segunda foi a Ariana! Lembra?
- Não faço a mínima idéia!
- Ela te mostrou a foto do filho dela...
- Que foto? Que filho?
- O moleque estudou na escolinha da sua afilhada. Vocês ficaram conversando um tempão...
- To te sacando, hein, Celso, ta querendo me enrolar! Tá querendo que eu me preocupe com minha memória fraca e não com estes telefonemas estranhos! Eu tenho cara de boba, mas boba eu não sou!
- Ana! Eu não tenho culpa se você não se lembra!
- Que história engraçada... eu acho que eu não fui nesta festa que você está descrevendo... será que você foi com a Ariana e eu não fui informada???
- Ana, Ana... não bata o pé pra mim!
- “Celso Henrique, Celso Henrique”. Pela última vez, antes que eu comece a te jogar coisas: quem é esta tal de Ariana?
- É aquela que tem uma bolsa Prada que você queria igual!
- Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh tá, a Ariana!

sábado, 3 de outubro de 2009

Djavan (1)

- “Amarelo deserto e seus temores...”

- É “Amar é um deserto”.

- Como assim?

- “Amar é um deserto e seus temores”.

- Não, não é possível.

- Me diz qual deserto é amarelo.

- Todos, quer dizer, a maioria tem areia amarela.

- Tá, faz sentido, mas não é “amarelo”.

- Ah, vai dizer que há anos eu canto esta música errado deste jeito?

- E não canta? Tá com dúvida, joga aí no Google.

- ...

-...

- “Amar é”

- Te disse.

- Então o videokê tá errado.

- Ahã, processa eles.

- Se eu fosse o Djavan, eu processava, fica divulgando a música errado...

- Djavan não deve ter nunca chegado perto de um videokê!

- Ah, ele devia, pra ver se deixa de ser fanho...é tão bom soltar a voz!

- Só não é bom pra quem tá perto!

- Quando eu era novinha, lá em Cabo Frio, tinha concurso de videokê no Natal. Todo mundo da minha família cantava.

- Que bom que não te conhecia!

- Imagina, eu era ótima, ganhava todas! Tem um jeito certo pra ganhar pontuação boa: tem que gritar.

- Repito: que bom que não te conhecia!

- E tem as músicas que se encaixam melhor no seu tom, né? A minha é aquela música do holandês.

- Qual?

- Das antigas! “Eu perguntava ‘tu e o holandês?’, e te abraçava ‘tu e o holandês’”, sabe?

- Não. Nunca ouvi.




(Tânia confessa que canta "A maré, o deserto e seus temores". Ela também recorreu ao PaiGoogle.)

Meus roteiros que nunca dariam certo. (2)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oi?

- Amor, tá pronto.
- Já vou.
- ...
- ...
- Quer que eu te sirva?
- Que que é isso?!
- Isto é um prato que você ainda não conhece chamado salada.
- Parece mais uma reserva florestal.
- Engraçadinho.
- O que é isto?
- Isto se chama rúcula. Rúcula, Celso, Celso, rúcula.
- E isto?
- Isto é agrião.
- E isto por cima?
- Cebolinha.
- Bléee.
- Ai, Celso, parece criança! O que você vai querer?
- Ta difícil escolher entre o capim e a samambaia.
- Prova, joga este molhinho.
- Que que tem nisso?
- Azeite, alho e cebola.
- Você demorou uma hora e meia pra pegar umas folhinhas, misturar azeite com cebola, sabendo que eu tava morrendo de fome?
- Celso, você precisa aprender a comer direito.
- Eu como direito!
- Você tem que se acostumar a comer verde.
- Eu como!
- O que de verde você come, que eu nunca vi?
- Orégano.
- Não vale.
- Guacamole!
- Ah, Celso, você disse ia me ajudar a emagrecer! Você não sabe como é difícil ver você comendo lasanha, estrogonofe, e ter que comer broto de soja!
- Eu disse que ia ajudar a emagrecer, não a passar fome! Isto aqui é dieta de modelo, e eu não quero que você vire um vara-pau!
- De tronco de baobá pra vara-pau vai demorar alguns anos...Tenho que emagrecer uns 8 quilos.
- Que nada.
- Pensa na minha mãe... eu posso ficar que nem ela.
- Tsc.
- Isso mesmo, come tudo...
- Que delícia de seiva bruta.
- Tá gostosinho, vai...
- To me sentindo um ruminante...
- To me sentindo magra. Mentaliza leveza, se deixar levar por uma brisa, com o peso de uma nuvem.
- Com a fome que tô, pensar em nuvem me lembra algodão doce... Só por curiosidade: tem sobremesa, algo com sabor?
- Não. De doce, o único liberado é o bolo no niver da Fê hoje à noite.
- Sabia que era aniversário de alguém!
- Nós vamos, hein? Comprei até presente.
- Onde vai ser?
- No Porcão.
- Oi?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ZzZzZz

- Amor?
- Hm.
- Amor?
- Hmmmm.
- Você ta dormindo?
- Tava.
- Você também não conseguiu pegar no sono?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Oi?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Quê?
- Eu disse “Eu consegui dormir até o momento em que uma voz misteriosa invadiu meu sonho e me trouxe de volta à realidade, o que não me agradou nem um pouco”.
- Você não disse isso tudo!
- ...
- Tá escutando?
- O quê?
- Ó, shhh.
- ...
- Ouviu?
- Uhum.
- O que você acha que é?
- Sua respiração.
- Não, tonto! Ouve!
- ...
- Acho que é um grilo... ou um besouro, ou qualquer outro bicho desses.
- ...
- Não vou conseguir dormir com esse barulho de bicho.
- Mas foi você que escolheu vir pra cá, no meio do mato!
- Mas eu não sabia que era pacote completo: chalé, café da manhã e inseto!
- Vai lá na minha necessaire e pega o tampão de ouvido.
- Você tem necessaire?
- Bolsa.
- Bolsa?
- ... (suspiro)
- ... este trocinho laranja?
- Uhum.
- Você nem viu!
- (levanta o pescoço sem abrir os olhos) Uhum.
- ...
- ...
- Que estranho usar isto! Parece que... que to em outro plano, outra dimensão, vazio, silêncio....parece que to no útero da minha mãe!
- Então fica quietinha por nove meses...
- Muito estranho não ouvir barulho nenhum...
- Não era esta a intenção?
- Não vou usar isto, não! Muito esquisito...
- Então me dá, que to precisando. Tem uma voz chatinha aqui do meu lado que não me deixa dormir.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

M

- Mais alguma coisa? Quer levar esfoliante, hidratante...?
-Ih, sai fora, o único “ante” que uso é desodorante! E olhe lá, tem dias que esqueço.
- Que desnecessário, você. Ai, lembrei: absorvente! Você ta vendo por aí?
- Ali, no balcão. Pede pro balconista.
- Eu não! Longe de mim.
- Qual o problema, Ana?
- Ele vai ficar pensando no meu ciclo menstrual.Vai olhar pra mim pensando se eu to ou não menstruada!
- Pouts, que neura.
- Amor, fala lá com ele pra mim, vai...
- É ruim, hein, ele vai me achar esquisito!
- "Que neura!". Se ele perguntar algo, fala que você sua muito debaixo da axila.
- Ahã, e colocar absorvente de debaixo do suvaco não é nada esquisito?
- Você fala que é pra sua mulher.
- “Oi, vendedor, tudo bem? Onde estão os absorventes? É para minha mulher.” Dã, todo mundo sabe que absorvente é pra mulher.
- Ai, Celso Henrique, por favor, por favor, por favor!
- E outra: se estou acompanhado de você, ele sabe que é pra você.
- O que custa você impedir um pouco o meu constrangimento?
- Ai, tá bom, só vou porque não agüento mais ficar nesta farmácia minúscula.
- ...
- (do balcão) Ana, com ou sem abas?
- Shhhhhhhh, com abas (gesticulando). Fa-la bai-xo.
- ...
- ...
- Fluxo normal ou noturno?
- Ótimo, Celso Henrique, agora todo mundo da farmácia vai saber se eu sou uma cachoeira ou uma torneira pingando. Normal. Não, noturno. Não, normal.
- Normal?
- é.
- ...
- ...
- Pronto, t’aqui.
- Humpf. Brigada.
- Falta só uma coisa.
- O quê?
- Camisinha.... pouts, não tem...
- Ta aqui, ó.
- Mas só tem M.
- Então, não é a que você usa?
- É mais, toda vez que eu compro, eu compro a G também, pra disfarçar.
- Ai, que besteira.
- Besteira nada! Se eu comprar a G, garanto o prestígio. Imagina a cara da mocinha do caixa ao ver que eu uso a M!
- Nossa, que super importante saber o que a mocinha do caixa pensa de você. Se eu estiver atrapalhando alguma coisa entre vocês, é só falar!
- Para de graça.
- Então não leva!
- Não leva?! Tá doida? Eu tenho minhas necessidades!
- Necessidade de provar pra mocinha do caixa se tem pintão! Pega logo, eu pago tudo e você pode ir pro carro.
- Mas ela já me viu com você, sabe que é pra mim.
- Eu posso ser promíscua!
- Ah tá: deixo de ser o pintudo do bairro e passo a ser o corno!
- Anda, Celso, pega logo. Qual problema em ter um pinto médio?
- Shhh!
- Pega!
- Não!
- Tá, coloca no meu bolso bem devagarzinho, pra ninguém ver...
- Ana, não viaja.
- An-da.
- ...
- Isso, agora, vamos ao caixa.
- Ai, que vergonha, Ana! Nunca fiz isso nem quando era moleque.
- Nossa, que esmalte lindo... e caro! Não é possível que um potinho de tinta custe isso tudo!
- Anda, Ana.
- Que roubo este esmalte! Só porque é importado.
- “Que coisa, não? Que roubo! Só tem ladrão neste país”.
- Absurdo, quase um assalto!
- ‘Bora, Ana. Rápido.
- Coloca o esmalte na sua jaqueta, dis-far-ça.
- Quêeee???
- Ou eu conto pra todo mundo que você é M!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Meus roteiros que nunca dariam certo. (1)







Certas coisas jamais precisariam de retoque. (atenção: "meus roteiros" é piadinha).



Alô 2

- “Eu fui dar, mamãe! Fui dar uma hora extra pro patrão, mamãe”.
- Ai, meu Deus, ela mija cantando.
- É pra desestressar. Daqui a pouco a gente fica sabendo se nosso pimpolho vem aí e eu não quero que ele venha com cara de estressado.
- Ana, você nem sabe se ta grávida.
- Mas eu tenho espírito materno, ta?
- O que que deu?
- Falta um minuto.
- Ai....
- Fala alguma coisa amor, pra passar o tempo.
- Bem, que bom que o cliente é estrangeiro, porque em menos de dois minutos eu já falei “chuá”, “mija”, “urina”...
- Eu conheço uma gringa chamada Ulrina, trabalha no laboratório daqui.
- E eu já fiz consultoria pruma empresa chamada Flatus.
- Ai, que porqueira, Celso Henrique!
- Ué, é o nome, não posso fazer nada!
- Ahhhhhhhhhh, pelo que entendi, não to grávida!
- Certeza?
- Só deu um risquinho. Poxa vida.
- Amor, um dia o Celsinho vai vir, não era a hora dele. E também, ia ser esquisito, a gente se protege tanto.
- Amor, é que na verdade eu parei de tomar pílula.
- Ana, você ta louca? E você não me avisa!
- Você não percebeu? Poxa, eu emagreci!
- E desde quando engordar ou emagrecer tem a ver com pílula?
- Uma conhecida me falou que os hormônios da pílula fazem o organismo reter líquido.
- Com tanta tecnologia por aí, você acha que os cientistas não iam pensar nisto?
- Mas foi um cientista que falou!
- Quem?
- A Ulrina.
- Que ótimo. A Ulrina teorizando sobre retenção de líquido.

Alô

- Alô.
- Alô, Celso Henrique?
- Oi, amor, fala, mas fala rapidinho... to com um cliente aqui.
- Dispensa o cliente, preciso muito falar com você.
- É importante?
- É mais que importante.
- Olha, da última vez que você disse que era importante era porque seu salto quebrou no meio da rua.
- Mas quebrar o salto é importante! Você não sabe o inferno que passei naquele dia, mancando, com bolha no pé!
- Amor, fala...
- Não dá pra falar assim, é urgente.
- Se fosse urgente, você nem me deixava falar alô!
- To grávida.
- Quê?!
- Grávida.
- Eu entendi o que você disse... mas como?
- Um homem, uma mulher, óvulo, espermatozóide...
- Tá, tá tá, não precisa explicar assim!
- Sei lá, você falou como se estivesse esperando a história da cegonha!
- Ana, para de graça. Você tem certeza?
- Ta atrasada... duas semanas.
- Compra um teste de farmácia.
- Já comprei.
- E aí?
- E aí o quê?
- Que que deu?
- Ah, ainda não fiz não. Não consigo!
- Amor, como você disse, é urgente, tem que saber! Anda, toma uma água, abre a torneira, pensa em cachoeira, em rios, riachos, poça d’água, goteira, chuá, cascatas, chuá...
- Hehehe, “chuá”.
- Vamos, Ana!
- Eu já fiz isso tudo, mas é que to com nervoso de ter que fazer xixi naquele trocinho.
- Nervoso de quê?
- De fazer xixi e pingar na minha mão!
- É só lavar depois.
- Você ta acostumado, né, a pegar o “cano” e ter o xixi pertinho da sua mão, mas pra gente é diferente.
- Lava depois, passa álcool, esteriliza, mas mija logo.
- Ai, Celso Henrique, que vocabulário de pai você tem , hein? “Mija logo”... mulher faz xixi.
- Urina logo.
- Peraí.
- O que houve?
- To me concentrando.
- Ei, você não vai fazer xixi comigo na linha não! eu não quero ouvir nada! Depois você me liga!
- Não, amor, temos que estar juntos. É um momento crucial na nossa vida.
- É por isso que mulher vai no banheiro junto? Pra esperar a outra se concentrar? ... Ana? Ana?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Perguntas indignas de respostas

Há algum tempo, eu desenho. Há algum tempo, eu me interesso por tiras de jornal, principalmente do caderno Ilustrada da Folha. Há algum tempo, eu rabisco algumas tiras, que, "coincidentemente", são relacionadas ao mundo do cinema, no qual humildemente me insiro. E bota humildade nisso.

Pra inaugurar, a primeira tira totalmente digital - um arraso tecnológico (err... Macromedia Flash).

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para meu filho, aos 18.

- Filho, se você está assistindo a este DVD, é porque completou 18 anos.

- Parabéns, filhote! Você já pode dirigir, já pode votar...

- Ana, as coisas vão mudar até lá...

- É, verdade...

- Tá me reconhecendo? Sou eu, seu pai, na versão com mais cabelo. E esta gordinha aqui é sua mãe...

- Que isso, Celso Henrique, você acha que eu não vou retomar minha forma? Eu to de resguardo!

(Corte)

- Você deve estar pensando: “DVD é uma coisa tão ultrapassada”...

- Na minha época, era videocassete! Um trambolho!

- Então, filhão, eu queria...

- A gente queria.

- A gente queria deixar umas coisas bem claras, caso aconteçam uns imprevistos na sua criação.

- Mas a gente jura por tudo que é mais sagrado que a gente vai se esforçar.

- Ô, se vamos!

- Filho, a mamãe e o papai trabalham como loucos pra te colocar nas melhores escolas e vão apoiar qualquer decisão sua em relação à sua carreira.

- Com exceções.

- Que exceções?

- Rá, pra tudo tem limite, né?

- Que limite, Celso Henrique?! O céu vai ser o limite pro meu filho!

- Eu não quero que ele dance balé, por exemplo!

- Que isso! Que preconceituoso! Balé é tão bonito, tão tradicional, minha família toda dançou balé quando criança.

- As meninas, né, porque sua família não tem homem nenhum.

- Esqueceu do meu primo Ricardo?

- Rarará, continuo dizendo que sua família não tem homem nenhum.

(Corte)

- Pois bem, filho. Você vai ser muito livre, a gente vai te apoiar em... muitas das suas decisões.

- Não vai encontrar melhores amigos do que eu e seu pai.

- Você pode contar tudo pra gente.

- Tudo... não, tudo não, porque você é muito lindinho, coisa linda da mamãe, e eu vou ficar com ciuminho quando você ficar grandinho, cheio de menininhas piranhazinhas correndo atrás de você!

- Que isso, Ana!

(Corte)

- Filho, é o seguinte: se por acaso, a gente se separar um dia, foi a melhor decisão que a gente podia tomar e sempre pensamos em você.

- E a culpa com certeza não será sua.

- Acontece com muitos casais. Em todos os relacionamentos, existem crises, desentendimentos, uma secretária mais oferecida...

(Corte)

- É isso, filho, a gente sempre vai querer o seu bem. A gente te ama muito.

- Muito, mas muito mesmo.

- Tchau, filhão. E aposto que agora o Flamengo é penta no mundial!

- Tanta coisa importante de deixar de legado pro seu filho e você me fala em futebol...

(Corte)

- Filho, é o seguinte: sua mãe tá lá dentro dando de mamar pra você, então eu aproveitei essa brecha pra te contar umas verdades, papo de homem. Caso a gente venha a se separar um dia, a culpa foi dela. Sua mãe é muito agitada, sabe? Se altera à toa, é a rainha de censura, aí não tem homem que agüente. E você viu, né, como ela está gordinha? Imagina daqui a 18 anos! Se ela não se cuidar, vai virar um bucho, igual à mãe dela. E caso sua avó morra antes de você ficar grande, confie em mim: ela é gigantesca, procura foto. E se um dia você vier a ter dúvidas em relação a sua sexualidade, mantenha o foco, não deixa esse lado da família da sua mãe falar mais alto. Você é um Caludo! Macho, forte! Um abraço de macho pra você, filho.

(Corte)

- Filhinho, aproveitando que seu pai tá dormindo - escuta só este ronco... – gostaria que você soubesse que eu sempre fui a pessoa equilibrada desta relação. Ele é boa pessoa, mas às vezes ele fala umas coisas... Balé é muito bonito, se você quiser dançar balé, eu vou estar na primeira fila pra te aplaudir. Mas voltando ao seu pai... se um dia a gente se separar, é porque seu pai deu motivo. Imagina se eu colocaria a instituição família em risco por um par de olhos bonitos... mas seu pai, não! Não pode ver um rabo de saia, que se inquieta todo. Ainda vai levar umas boas bofetadas de algum cara por aí porque olhou pra mulher alheia. E se alguém matar seu pai por causa disso, fica tranqüilo que eu vou arrumar um padrasto ótimo pra você. Um beijo, filhinho, coisa linda da mamãe.

(corte, stop, eject)

- Eles são loucos.

De noite2

- Acorda, Celso Henrique.

- Ã?

- Acorda!

- Que foi?

- Que foi?! Que foi que você quer que eu caia da cama!

- Ana, Ana...

- “Celso Henrique, Celso Henrique”

- Você acha que eu te empurro de propósito?

- Não, você me empurra de folgado que você é, ocupa 70% da cama.

- Eu, folgado?

- Sim, você faz questão de dormir com dois travesseiros e uma perna em cima de mim!

- Costume, pô!

- Ok, escolhe: travesseiro ou perna?

- Ah, não.

- São duas e quarenta e um. Daqui a... 3 horas e 19 minutos você eu temos que levantar.

- Travesseiro.

- Nossa, Celso Henrique...

- O quê?

- Eu podia jurar que você ia escolher a perna pra poder ficar juntinho de mim.

- Tá bom, então, perna.

- Assim não vale, tem que ter sinceridade.

- Mas eu fui sincero e você me criticou!

- Não era bem uma crítica, mas... sei lá, sabe isso de velhinhos dormirem de mão dada?

- Existe isso?

- Existe, meus avós dormiam de mão dada.

- Tá, eu fico com o travesseiro e fico de mão dada com você, tá bom assim?

- Combinado!

- ...

- ...

- Hum.

- Minha mão tá suando.

- Vamos fazer o seguinte: você passa a perna por cima de mim.

- Tá.

-...

- ...

-...

- Ai, ai, câimbra.

- Mentira, você nunca tem câimbra.

- Amor, é sério! Nunca tive câimbra porque nunca tive que passar a perna por cima de você!

- Mas é uma coisa tão simples, é só levantar a perna!

- Mas o sangue sobe.

- Ai, ai, ai.

- Vamos fazer regras: você não pode tomar mais que 50% da cama.

- Mas eu sou maior que você.

- Tá, 60%.

- E você não pode roncar.

- Eu sou mulher. Eu não ronco, eu ressono.

- Então ressona baixo.

- Não tem como controlar, é desvio de septo!

- Tenta, faz favor?

- Tá.

- Boa noite.

- Boa noite.

- ...

- ...

- Acorda, Celso Henrique.

- Que que foi agora?

- Você pode por favor acabar com o monopólio do edredon?

sábado, 27 de junho de 2009

De noite

- Ana...

- Hum?

- Eu sei de tudo.

- Tudo o quê?

- Tudo.

- Tudo o quê, Celso Henrique?

- Humpf, tá bom então.

- Bom o quê? O que que tá bom?

- Deixa.

- Agora fala.

- Nada.

- Nada?

- Aham.

- Pelo amor de Deus, antes era tudo, agora é nada!

- Ana, não adianta.

- Ai, Jesus, lá vem você.

- Tá vendo?

- Vendo o quê, homem de Deus?!

- Você. Tá nervosa. É um sinal de que se sente acuada.

- Ai. Dorme, Celso Henrique.

- ...

- ...

- Ana, olha como vc é...

- Sou o quê?

- A gente não consegue nem conversar como dois seres humanos adultos, que você já se altera toda.

- Celso Henrique, quem começou e terminou a conversa foi você!

- Eu? Se foi você que me mandou dormir!

- Mandei mesmo, você parece que é louco.

- Posso ser louco, mas não sou cego.

- Do que que você tá falando?!

- Já disse, eu sei de tudo.

- Tudo o quê, exatamente?

- Do seu casinho.

- Casinho?

-...

- Celso Henrique, eu não vou falar nada.

- É melhor mesmo não inventar explicações.

- Com quem eu teria um caso? Com o Vagner?

- Eu não citei nomes, na verdade isso nem é importante. Mas se você diz...

- Celso Henrique, eu conheço o Vagner há anos, você conhece o Vagner há anos e nós dois sabemos que ele é gay.

- Mas eu não disse que era ele.

- Quem então? O Marcelo, casadíssimo? Ou o Caio, que vive me dando patada?

- Ana, o nome não interessa. Eu sei. Simplesmente sei. E me admira muito você ter agido assim.

- Assim como, Celso Henrique?

- Aqui, na nossa casa, onde a gente planejava ter filhos.

- Quê? Você enlouqueceu?

- Eu encontrei o vinho, encontrei a lingerie. Tudo. A gente nunca foi destas coisas. E depois de cinco anos de casamento, você me dá essa punhalada pelas costas, enquanto eu trabalhava! É o fim da picada.

- Celso Henrique, você é muito idiota mesmo. Eu devia ter te traído, devia ter colocado dois galhos enormes na sua cabeça, porque aí você poderia colocar um faixa “i-di-o-ta” e todo mundo ia saber.

- Ahhhh, é???

- É sim! O vinho, as velas, a lingerie eram todos pra você. Ou você se esqueceu?

- Esqueci do quê?

- Ai, Senhor, dai-me paciência, porque se Você me der força, eu meto a mão no meu marido!

- Esqueci do quê?!

- Seis anos de casamento. Ontem.

- %$&*@

- ...

- Ana?

- Hum.

- Você tá chateada?

- To, claro que tô. Mas não é por isso.

- É porque então?

- Deixa.

- Fala.

- Não, não é nada.

- Fala, Ana.

- Tá, eu sei de tudo.