quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para meu filho, aos 18.

- Filho, se você está assistindo a este DVD, é porque completou 18 anos.

- Parabéns, filhote! Você já pode dirigir, já pode votar...

- Ana, as coisas vão mudar até lá...

- É, verdade...

- Tá me reconhecendo? Sou eu, seu pai, na versão com mais cabelo. E esta gordinha aqui é sua mãe...

- Que isso, Celso Henrique, você acha que eu não vou retomar minha forma? Eu to de resguardo!

(Corte)

- Você deve estar pensando: “DVD é uma coisa tão ultrapassada”...

- Na minha época, era videocassete! Um trambolho!

- Então, filhão, eu queria...

- A gente queria.

- A gente queria deixar umas coisas bem claras, caso aconteçam uns imprevistos na sua criação.

- Mas a gente jura por tudo que é mais sagrado que a gente vai se esforçar.

- Ô, se vamos!

- Filho, a mamãe e o papai trabalham como loucos pra te colocar nas melhores escolas e vão apoiar qualquer decisão sua em relação à sua carreira.

- Com exceções.

- Que exceções?

- Rá, pra tudo tem limite, né?

- Que limite, Celso Henrique?! O céu vai ser o limite pro meu filho!

- Eu não quero que ele dance balé, por exemplo!

- Que isso! Que preconceituoso! Balé é tão bonito, tão tradicional, minha família toda dançou balé quando criança.

- As meninas, né, porque sua família não tem homem nenhum.

- Esqueceu do meu primo Ricardo?

- Rarará, continuo dizendo que sua família não tem homem nenhum.

(Corte)

- Pois bem, filho. Você vai ser muito livre, a gente vai te apoiar em... muitas das suas decisões.

- Não vai encontrar melhores amigos do que eu e seu pai.

- Você pode contar tudo pra gente.

- Tudo... não, tudo não, porque você é muito lindinho, coisa linda da mamãe, e eu vou ficar com ciuminho quando você ficar grandinho, cheio de menininhas piranhazinhas correndo atrás de você!

- Que isso, Ana!

(Corte)

- Filho, é o seguinte: se por acaso, a gente se separar um dia, foi a melhor decisão que a gente podia tomar e sempre pensamos em você.

- E a culpa com certeza não será sua.

- Acontece com muitos casais. Em todos os relacionamentos, existem crises, desentendimentos, uma secretária mais oferecida...

(Corte)

- É isso, filho, a gente sempre vai querer o seu bem. A gente te ama muito.

- Muito, mas muito mesmo.

- Tchau, filhão. E aposto que agora o Flamengo é penta no mundial!

- Tanta coisa importante de deixar de legado pro seu filho e você me fala em futebol...

(Corte)

- Filho, é o seguinte: sua mãe tá lá dentro dando de mamar pra você, então eu aproveitei essa brecha pra te contar umas verdades, papo de homem. Caso a gente venha a se separar um dia, a culpa foi dela. Sua mãe é muito agitada, sabe? Se altera à toa, é a rainha de censura, aí não tem homem que agüente. E você viu, né, como ela está gordinha? Imagina daqui a 18 anos! Se ela não se cuidar, vai virar um bucho, igual à mãe dela. E caso sua avó morra antes de você ficar grande, confie em mim: ela é gigantesca, procura foto. E se um dia você vier a ter dúvidas em relação a sua sexualidade, mantenha o foco, não deixa esse lado da família da sua mãe falar mais alto. Você é um Caludo! Macho, forte! Um abraço de macho pra você, filho.

(Corte)

- Filhinho, aproveitando que seu pai tá dormindo - escuta só este ronco... – gostaria que você soubesse que eu sempre fui a pessoa equilibrada desta relação. Ele é boa pessoa, mas às vezes ele fala umas coisas... Balé é muito bonito, se você quiser dançar balé, eu vou estar na primeira fila pra te aplaudir. Mas voltando ao seu pai... se um dia a gente se separar, é porque seu pai deu motivo. Imagina se eu colocaria a instituição família em risco por um par de olhos bonitos... mas seu pai, não! Não pode ver um rabo de saia, que se inquieta todo. Ainda vai levar umas boas bofetadas de algum cara por aí porque olhou pra mulher alheia. E se alguém matar seu pai por causa disso, fica tranqüilo que eu vou arrumar um padrasto ótimo pra você. Um beijo, filhinho, coisa linda da mamãe.

(corte, stop, eject)

- Eles são loucos.

De noite2

- Acorda, Celso Henrique.

- Ã?

- Acorda!

- Que foi?

- Que foi?! Que foi que você quer que eu caia da cama!

- Ana, Ana...

- “Celso Henrique, Celso Henrique”

- Você acha que eu te empurro de propósito?

- Não, você me empurra de folgado que você é, ocupa 70% da cama.

- Eu, folgado?

- Sim, você faz questão de dormir com dois travesseiros e uma perna em cima de mim!

- Costume, pô!

- Ok, escolhe: travesseiro ou perna?

- Ah, não.

- São duas e quarenta e um. Daqui a... 3 horas e 19 minutos você eu temos que levantar.

- Travesseiro.

- Nossa, Celso Henrique...

- O quê?

- Eu podia jurar que você ia escolher a perna pra poder ficar juntinho de mim.

- Tá bom, então, perna.

- Assim não vale, tem que ter sinceridade.

- Mas eu fui sincero e você me criticou!

- Não era bem uma crítica, mas... sei lá, sabe isso de velhinhos dormirem de mão dada?

- Existe isso?

- Existe, meus avós dormiam de mão dada.

- Tá, eu fico com o travesseiro e fico de mão dada com você, tá bom assim?

- Combinado!

- ...

- ...

- Hum.

- Minha mão tá suando.

- Vamos fazer o seguinte: você passa a perna por cima de mim.

- Tá.

-...

- ...

-...

- Ai, ai, câimbra.

- Mentira, você nunca tem câimbra.

- Amor, é sério! Nunca tive câimbra porque nunca tive que passar a perna por cima de você!

- Mas é uma coisa tão simples, é só levantar a perna!

- Mas o sangue sobe.

- Ai, ai, ai.

- Vamos fazer regras: você não pode tomar mais que 50% da cama.

- Mas eu sou maior que você.

- Tá, 60%.

- E você não pode roncar.

- Eu sou mulher. Eu não ronco, eu ressono.

- Então ressona baixo.

- Não tem como controlar, é desvio de septo!

- Tenta, faz favor?

- Tá.

- Boa noite.

- Boa noite.

- ...

- ...

- Acorda, Celso Henrique.

- Que que foi agora?

- Você pode por favor acabar com o monopólio do edredon?