sábado, 27 de junho de 2009

De noite

- Ana...

- Hum?

- Eu sei de tudo.

- Tudo o quê?

- Tudo.

- Tudo o quê, Celso Henrique?

- Humpf, tá bom então.

- Bom o quê? O que que tá bom?

- Deixa.

- Agora fala.

- Nada.

- Nada?

- Aham.

- Pelo amor de Deus, antes era tudo, agora é nada!

- Ana, não adianta.

- Ai, Jesus, lá vem você.

- Tá vendo?

- Vendo o quê, homem de Deus?!

- Você. Tá nervosa. É um sinal de que se sente acuada.

- Ai. Dorme, Celso Henrique.

- ...

- ...

- Ana, olha como vc é...

- Sou o quê?

- A gente não consegue nem conversar como dois seres humanos adultos, que você já se altera toda.

- Celso Henrique, quem começou e terminou a conversa foi você!

- Eu? Se foi você que me mandou dormir!

- Mandei mesmo, você parece que é louco.

- Posso ser louco, mas não sou cego.

- Do que que você tá falando?!

- Já disse, eu sei de tudo.

- Tudo o quê, exatamente?

- Do seu casinho.

- Casinho?

-...

- Celso Henrique, eu não vou falar nada.

- É melhor mesmo não inventar explicações.

- Com quem eu teria um caso? Com o Vagner?

- Eu não citei nomes, na verdade isso nem é importante. Mas se você diz...

- Celso Henrique, eu conheço o Vagner há anos, você conhece o Vagner há anos e nós dois sabemos que ele é gay.

- Mas eu não disse que era ele.

- Quem então? O Marcelo, casadíssimo? Ou o Caio, que vive me dando patada?

- Ana, o nome não interessa. Eu sei. Simplesmente sei. E me admira muito você ter agido assim.

- Assim como, Celso Henrique?

- Aqui, na nossa casa, onde a gente planejava ter filhos.

- Quê? Você enlouqueceu?

- Eu encontrei o vinho, encontrei a lingerie. Tudo. A gente nunca foi destas coisas. E depois de cinco anos de casamento, você me dá essa punhalada pelas costas, enquanto eu trabalhava! É o fim da picada.

- Celso Henrique, você é muito idiota mesmo. Eu devia ter te traído, devia ter colocado dois galhos enormes na sua cabeça, porque aí você poderia colocar um faixa “i-di-o-ta” e todo mundo ia saber.

- Ahhhh, é???

- É sim! O vinho, as velas, a lingerie eram todos pra você. Ou você se esqueceu?

- Esqueci do quê?

- Ai, Senhor, dai-me paciência, porque se Você me der força, eu meto a mão no meu marido!

- Esqueci do quê?!

- Seis anos de casamento. Ontem.

- %$&*@

- ...

- Ana?

- Hum.

- Você tá chateada?

- To, claro que tô. Mas não é por isso.

- É porque então?

- Deixa.

- Fala.

- Não, não é nada.

- Fala, Ana.

- Tá, eu sei de tudo.