segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tcharã (2)

- (*buff buff buff*)
- Ana?
- Alô? Celso? Tá me ouvindo?
- Tô, que houve?
- Ai! Ave Maria, to pagando meus pecados!
- Oi? Que que você falou?
- Num to aguentaaaando....
- Ana? Você ta bem?
- Já... já estive muito melhor. Aiiii...
- Ana? Que que houve?
- Ai, Celso. Amor, vem me buscar?
- Claro, claro. Onde você ta?
- To aqui na esquina da Nilo Peçanha, com a Graça Aranha...
- Ok, vou só avisar aqui... salvar um documentos...
- Anda, vem logo!
- Ana, que que houve? Você ta me preocupando!
- Um aci...dente. Ai, peraí, deixa eu tomar fôlego!
- Ana....
- Gê-zus. Ai, amor, vem logo que não agüento andar!
- Ta, já to indo, mas não entendendo nada. O que você tem?
- Dor, muita muita muita dor!
- Muita?
- Muitíssississima.
- Quebrou braço, perna?
- Não, não... isso não.
- Dor no peito?!
- Não...
- No braço? Ta formigando, algo assim?
- Não... dói o pé!
- Dor no pé? Será que é pressão? Vê se ele ta inchado.
- Antes estivesse inchado.
- Como assim?
- Meu salto. O sapato era meio larguinho, aí o salto....ui... ficou preso nas pedras portuguesas... quebrou...
- Meu pai do céu, e lá vamos nós de novo...
- Onde você vai? Vai vir me buscar, né?
- Você me chamou, fez esse drama todo pra me falar que seu salto quebrou?
- Drama?! Claro que não! O salto quebrou, to andando torta, e agora eu to com uma baita bolha no calcanhar e outra na sola do pé! Estou ferida, Celso, fe-ri-da!
- Compreendo. Que bom que você paga o plano de saúde, afinal, bolha no pé é grave!
- Ceeeeelso! Sabe? Desisto! Só sendo mulher pra entender!
- Olha o draaaaama...
- Celso! Clemêeencia! Não basta a dor que eu to sentindo, to pagando um micão andando na rua toda torta igual ao Corcunda de Notre Dame! Você não sabe o que eu to passando!
- Sei sim, ta lembrado daquele baile a fantasia? Você de cigana....
- Hum. Arrasei, né? Ai...
- Ô. Qual era a minha fantasia?
- Humpf.
- Opa, não te ouvi.
- ...Corcunda.
- Tcharã!
- Tsc, vou pegar um táxi. Beijo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Parabéns!

- Oi, amor!
- Oi, linda!
- Sabe que dia é hoje?
- Aham.
- Que dia é?
- Quinta-feira.
- Nãaao... que dia é hoje?
- Como assim?
- Hoje é uma data especial!
- Ahhhhhhhm, é verdade!
- Então...
- Parabéns, linda! (*smack*)
- Como assim, ‘parabéns’?
- Parabéns, ué.
- Parabéns?! Que aleatório!
- Por quê?
- Você tem alguma noção do significado da palavra ‘parabéns’?
- Pô... tenho.
- Qual?
- Ah, você sabe.
- Quero escutar sua interpretação.
- Sério? Você quer saber o que é parabéns?
- Seríssimo.
- Ai, Ana... já entendi, você quer que eu me ferre na explicação para você poder demonstrar o quanto é sabida!
- Que absurdo!
- Vai falar que não é verdade?
- Tá. É verdade.
- Então, vamos lá, ó grande sabedora do léxico. Não sei o que é ‘parabéns’. Me faria o obséquio de informar o que significa tal palavra?
- Parabéns podia ser ‘para-males’. Mas é para o bem, então é “para bens”. Você diz que espera que apenas aconteçam as coisas para o bem. Só deve ser dito quando houver um acontecimento importante que acabou de acontecer.
- É, faz sentido. Medalhinha léxica pra você.
- E então?
- Hum, ‘parabéns’ não cabe pra ocasião, né?
- Não, né!
- Então.... muitos anos... muitos... meses, muitos dias para comemorar aquele nosso grande momento!
- Aí sim!
- Que sempre possamos comemorar assim, juntos, no companheirismo, na cumplicidade...
- No respeito...
- Com certeza, no respeito, na gratidão...
- Na admiração que temos um pelo outro...
- Pô... Tirou as palavras da minha boca, Ana!
- Você não tem noção de que dia é hoje, não é mesmo?
- Hummmm, não... só sei que a gente tá de parabéns, não estamos?
- Vou te fazer engolir minha medalhinha léxica, Celso Henrique!