sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tcharã

- “Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô. Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelaaaaas”! Tcharã!
- Ana... que que é isso?
- Minha fantasia!
- É de mendiga?
- Não!
- Doida?
- Cigana!
- É, só por adivinhação mesmo...
- Chato! Eu adorei.
- Precisa desses penduricalhos todos assim?
- Aham.
- Fica fazendo barulhinho de mimosa, sabe? Daquelas vacas com sino no pescoço.
- Credo, Celso Henrique! Eu achei que você ia adorar.
- Você tá bonitinha...
- Não ouvi!
- Tá bom, você tá linda!
- Adoro sua sinceridade! Quer ver a sua fantasia?
- Eu já tenho! Você ta indo com o choppe, eu já to voltando de ressaca! Vou de surfista. Só colocar bermudão e chinelão!
- Nada disso! Coisa sem graça! Tem que ter criatividade! Por isto, a mamãe aqui mandou fazer.... tcharã!
- Peter Pan?!
- Não, tolinho! Corcunda de Notre Dame! Duplinháaaa!
- Pultaqueoparil, né?
- Qual o problema?
- “Qual o problema?!” Você ta indo de barriga e pernas de fora! Qual minha moral em ir de deformado e corcunda?
- Que exagero! Celso, alô, super original! A gente vai ganhar o prêmio de dupla fantasiada!
- Do quê?!!!
- Ah, não, tem que estar animado!
- Me animar, como? Se é possível de o povo ainda apoiar o copo de cerveja nas minhas costas?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha tia

- Alô!
- Celso Henrique de Matos Caludo. Onde o senhor está?
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Onde você está?
- Onde eu to?
- Não me responde com pergunta!
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Celso. Onde você tá?
- To saindo do trabalho.
- Mentira! Liguei pra Ariana já faz uma hora e ela disse que você saiu!
- Na verdade, eu to no caminho de volta do trabalho.
- Que barulho foi este?
- Barulho?
- Não me responde com pergunta!
- Não sei! Foi um troço aqui!
- Onde você ta, Celso? Você está me cansando. Eu estou sem paciência.
- Eu dei carona pros caras, aí...
- Que “caras”?
- Os... caras.
- No-mes.
- Ah, o Edu, o Flavio... o...
- Tem mulher no meio?
- Não! De jeito nenhum!
- Hum, sei... que que foi isso?
- Isso o que?
- Porque você ta respirando ofegante?!!!!
- Eu?
- Não, a $%#%& da minha tia!
- Quê?
- Celso, me fala: você está num prostíbulo?
- Hein?! Claro que não!
- Tem certeza? Vamos ser adultos e encarar isto de frente.
- Ana, que absurdo!
- Você ta numa boate de strippers?
- Ana!
- Estou tentando ser uma mulher centrada e moderna. Quero apenas a sua sinceridade para que esta relação tenha futuro.
- To jogando bola.
- O quêeee?
- Jogando bola.
- Eu vou te mataaaaaaaaaaaaaar, desgraçaaaaaaaado!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ranger

- Alô?
- Oi, amô-ô!
- Que que houve? Quando você me liga cheia de firula é porque quer pedir algo ou porque fez merdinha...
- Cruz credo, Celso Henrique, um bom dia pra você também!
- Fala, Ana.
- Sabe retrovisor?
- Sei.
- Sabe seu carro?
- Sei. Que que houve?!
- Então, seu carro não tem mais retrovisor.
- Como assim?!
- Eu tava tirando o carro da garagem, o féladapulta do 304 estacionou o Ranger dele bem na frente!
- Ana, Ana, Ana...
- Sabe, Celso, o Ranger é muito grande, e o cara nem deixou espaço pra manobra, aí...
- Eu já falei para você tratar meu carro como se fosse seu cabelo, Ana! Pultaqueoparil.
- Deixa eu terminar, senhor esquentadinho?
- Pultaqueoparil, meu carro, Ana! Você sabe o cuidado que tenho com ele! Não posso deixá-lo um dia na sua mão que você tem que destruir alguma coisa! Não é possível!
- Aí, quando saí do prédio, três homens cercaram o carro.
- Ã???
- Eles tinham acabado de assaltar uma loja, roubaram seu precioso carro...
- Meu Deus!
- A polícia soube do assalto, recolheu informações dos assaltantes e descobriu que eles eram uma facção master criminosa. Perseguiram os caras...
- E aí?!
- E aí que eles perderam a direção do carro. Perda total, lindo. Capotaram, voaram corpos para tudo que é lado. Sangue, tripa, globo ocular...
- Ana, você ta bem?
- To ótima, você que não tá: acharam que você tava dentro do carro, porque um dos ladrões ficou deformado, aí você foi dado como morto. Ligaram pra sua mãe...
- Sério?
- Claro que não, Celso Henrique! Isso pra você aprender que um retrovisor não é tudo na vida!
- Carálio, Ana, eu vou... pultaqueoparil, você quase me mata do coração!
- Desculpa, benhê, mas olha: o Ranger é muito grande! Você devia dar um chega-pra-lá no cara do 304. Muito abusado pro meu gosto!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A maldade está na cabeça das pessoas

- Vai pro lado, Celso.
- Pra cá?
- Uhum. Ahm, não... mexe pro outro.
- Assim?
- Aham. Não aconteceu nada... mais pra frente.
- Ê ê ê, se decide.
- Não sei... tem alguma coisa errada! Não era assim...
- Ó, vou fazer do meu jeito.
- Assim você vai quebrar! Ta apertando com tanta força!
- Ué, sempre apertei assim, é o jeito que funciona.
- Eu vou toda delicadinha e sempre deu certo...
- Se liga e aprende com toda a habilidade do mestre!
- Aham, mestre, ta, sei...
- Eu sei que sou o melhor nisso, são anos de prática.
- O fato de você ter mais prática que eu não significa muita coisa.
- Como não? Eu sei de todos os segredos!
- Mas aquela madrugada que a gente virou, eu me saí muito melhor que você!
- O que você considera... melhor?
- Ah, tudo, todo o conjunto. Você babou na minha performance, nunca imaginou que eu conseguiria chegar até o final.
- No começo você tava mal, mas na segunda vez melhorou, mas só um pouco.
- Ah, eu fui ótima, confessa! Era minha primeira vez, eu nunca tinha tentado!
- É... pra primeira vez... foi satisfatório.
- Hahaha, Celso, você precisa se ver! Aos poucos você vai mexendo pro lado, depois pro outro, vira língua!
- Tá, tá, se você ficar falando, vou perder a concentração.
- Mas eu não vou ficar muda!
- Fala só o necessário, então.
- Você fica tão marrento jogando videogame...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Niver Fê (4)

- Ai, to tão cheia...
- Pouts, comi muito também.
- É tão ruim a gente se sentir assim...
- Ah, eu to muito bem! Pra quem comeu rúcula no almoço...
- To tão cheia, mas tão cheia que não consigo alcançar os pés pra tirar o sapato...
- Nem tento alcançar os pés. Já vou desabotoando a calça para aliviar aos poucos...
- Celso Henrique, você está desde que momento com esta calça aberta deste jeito?
- Desde antes do parabéns! Tava lotado já!
- Me mata de vergonha, Celso...
- Vergonha é o preço que este Porcão cobra. Tenho direito de andar com a calça desabotoada naquele lugar.
- Tão caro, né?
- Pô...
- Além de eu me sentir mal por ter comido tanto, eu fico mal pelos animais.
- Que animais?
- As vaquinhas, os boizinhos que morreram pra gente ir à forra de carne hoje...
- Agora você se sente mal, né? Tava lambendo os beiços comendo vaquinha e boizinho.
- Ai, Celso, aqueles animais têm família. Têm mãe, pai, filho... alguém se importava com eles...
- Se deram mal, to no topo da cadeia alimentar.
- Que insensibilidade... Logo quando a gente tava saindo, vi um casal comendo carne mal passada, tinha uma poça de sangue no prato... que dó.
- Dó, nada, que delícia, isso sim.
- Imagino aqueles animais comendo, pastando, sem saber o que o destino lhes reserva.
- Quantas caipirinhas você bebeu?
- Seis, mas eu to bem...
- Ahã.
- Imagino eles indo pro abate... dou muita razão pra estes grupos de protesto contra a matança dos animais. Taí, vou procurar uma ONG de proteção aos animais.
- Consigo imaginar você no meio de um protesto. Seria a primeira ser presa.
- Celso, é sério! É crueldade com os animais. A gente mata sem piedade no coração, só pro nosso bem estar, não é nem por necessidade! A gente não precisa comer aquele tanto de carne pra sobreviver!
- Ana, amor, lindinha... você comeu a média, afinal, comeu só folha no almoço, então equilibrou...
- Ai, to mal, vou lá no banheiro escovar os dentes pra dormir, isto se eu conseguir dormir... to me sentindo tão culpada! Vou até ter indigestão...
- Aproveita e passa o fio dental, pra tirar os restos mortais das vaquinhas que ficaram na sua boca!
- Seu bobo.... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Amoooooor!
- Quié?
- Vem cá matar um bicho, aqui! Anda logo! Ahhhhhhhhhh, ta vindo pra cima de mim!
- (Pá de chinelada!)...
- Argh! Que nojo! Odeio bicho.







Parabéns, Fê!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aquilo.

- Celso, ‘cê ouviu?
- Aham.
- Eles tão...?
- Tão!
- De novo?! Essa menina só sabe gemer na vida dela?
- Pelo menos, alguém se diverte nas noites de domingo né?
- Que que você falou?
- Você tá com inveja do pique dela...
- Shhh. Que que ela falou?!
- Falou “Ai, Everton!”.
- Tem certeza?
- Aham.
- Que que ela falou agora?
- Falou “Ai, Éeeeeeeverton”.
- Tem certeza?
- Ou Edson... Ou Epson...
- Que escândalo!
- Ah, que nada! Mulher às vezes tem que dar uns gritinhos mesmo! Deixa ela se divertir!
- Não é isso! O namorado dela chama Rubens!
- Ih, rapá, o mais novo corno do prédio! Do jeito que ela grita, todo mundo vai saber.
- Peraí.
- Onde você vai?
- Vou pegar um copo e colocar na parede, pra escutar melhor.
- Isso é sacanagem né?
- Tudo indica que sim, né!
- Nãaaao, to dizendo... você tem artimanhas para bisbilhotar o vuco-vuco dos outros?!
- Ah, Celso! Você nunca fez isto?
- A vida dos outros não me interessa, o jeito que os outros trepam não me interessa...
- Shhh! Fala baixo! Parece que tem mais alguém lá!
- Me dá este copo...
- Ué! A vida dos outros não te interessava!
- Eu to ouvindo sob protesto, pelo bem da informação. Eu escuto melhor que você.
- Ta ouvindo?
- To. É mulher! Que ma-ra-vi-lha! Duas mulheres! Nunca imaginei que nossa vizinha fosse tão safada!
- Celso Henrique! Pára de pular na cama! Isso aqui vai desmontar! Me dá o copo ...
- (pula pula pula)
- A outra não cala a boca, é do tipo que fala na cama.
- Que legal! (pula pula pula)
- Que gente estranha... pára de pular! Deixa eu ouvir!
- ...
- Ah, é a Patrícia Poeta! A tevê ta ligada!
- Ahhhh! Se fosse a Patrícia Poeta ia ser muuuuuuuuuuuito manero!
- Ficaram quietos.
- Ahm?
- Ai, Celso Henriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiique!
- Que foi?! Tá doida?
- Ela ouviu o barulho da cama e colocou um copo na parede! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh, Celso Henriquêeeemmmmmm!
- Você ta parecendo um gato que acabou de tomar banho de água fria.
- Colabora ou eu começo a gritar o nome de outro homem, e você vai ser conhecido como o mais novo corno do prédio!
- (pula pula pula).

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Niver Fê (3)

- Ai, Celso, vamos mudar de lugar?
- Vamos... mas por quê?
- To na reta de uma menina ali que eu não gosto.
- Que menina?
- Aquela dali de laranja... vamos, chega pra lá. (*swap*) Quero evitar o contato visual desta Medusa.
- Não conheço a Medusa.
- Ih, é das antigas... Insuportável.
- E o que ela fez?
- Nasceu.
- Mas o que ela te fez?
- Quando eu tinha 7 anos, a gente morava no mesmo prédio. Em um dos aniversários dela, ela fez uma festinha da pizza e não me chamou.
- E...?
- E quando a gente tava na 6ª série, ela quebrou a perna e não fazia educação física. Ficava de fora, só rindo da minha cara. Palhaça, eu não tenho culpa de ser descoordenada! É de família!
- E...?
- E quando eu fiz 15 anos, eu pedi pra minha mãe o intercâmbio pros EUA, e ela me copiou: pediu a mesma coisa pra mãe dela. Eu não fui, e ela foi.
- Nossa, quantos motivos relevantes! Esse ódio é semelhante aquele que motiva o conflito entre judeus e palestinos!
- Ah, Celso! É coisa de mulher. Você nunca vai entender.
- Fala sério, Ana! Você fica cultivando rusga com a menina desde o berçário! Tudo isso aí que você falou: só bobeira. Ela não roubou nenhum namorado seu, nunca te difamou, nunca...
- Ah, Celso Henriquê! Tá bom! Meu santo não bate com o dela porque ela come pizza, não faz educação física, morou nos EUA e sempre foi mais magra que eu! Satisfeito agora, satisfeito?
- É impressão minha ou ela está com o mesmo vestido que o seu?

domingo, 18 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fiu-fiu

- Oi, amor.
- Oi (*smack*)... que que foi que você chegou rindo?
- Nada não.
- Ana, Ana...
- Tá, vou te contar, mas você tem que me prometer que não vai ficar chateado.
- ‘Cê tá com cara de quem aprontou.... eu não vou prometer nada!
- Ah, mas eu vou contar mesmo assim.
- Eu sabia! Por isso que não prometi. Mulher não se agüenta!
- Sabe o prédio que ‘tão construindo aqui do lado ?
- Hum.
- Acabei de passar lá na frente, e ouvi um “Gostosa!”.
- Quem falou isso?
- Os pedreiros.
- Foi um coro? Uma torcida organizada?
- Tá, foi um só.
- Grande coisa.
- Ah, é? Você tá acostumado a ouvir um “Gostoso!” todo dia enquanto anda por aí?
- Não... eles só falaram isto porque ficam o dia todo perto de homem. Aí quando vê uma mulher, precisam provar pra outro que são machos mesmo.
- Mas era um “Ave Maria, que gostosa!”, exagerado, sabe?
- Exagerado? Pra mim é religioso isso aí.
- Como é que vou explicar? Era um “Gostosa!” no malandrês, meio carioca: “Goxxxxxxtoooooosa”!
- Bêbado é que exagera no ‘s’. Esses pedreiros aí devem estar cheios de pinga na telha.
- Ai, Celso Henrique, você é incapaz de reconhecer que eu to com tudo em cima!
- Calma, só to falando que ser chamada de gostosa por um pedreiro não devia ser levado muito a sério.
- Ué, por que não? Respeita a classe dos pedreiros!
- É que qualquer coisa é “Gostosa!” prum pedreiro. “Hum, que quentinha gostosa!”, “que sombrinha gostosa”...
- Ah! Você tá com ciúme porque, desde que eu parei de tomar pílula, eu emagreci e que ando chamando atenção!
- Emagreceu, não! Deixou de reter líquido!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fora da farmácia

- Corre!
- Corre nada, anda devagarzinho pra disfarçar!
- Então, apressa o passo.
- Ah, pára!
- Realizou seu sonho de adolescente, que é roubar uma loja?
- Ah, Celso, gastei uma baba nesta farmácia hoje, o esmalte é tipo brinde.
- E a delegacia é cortesia, né?
- Medroso!
- Não sei porque você teimou com este esmalte, você tem vários vermelhos lá em casa!
- Mas eu nunca tive um Hot Havana! É importado!
- Hã?
- Eu tenho o Toque de Ira, o Sublime Paixão e este aqui que estou usando é o Moulin Rouge.
- Vermelho.
- Têm sutis diferenças.
- Só se for o prazo de validade! É tudo a mesma coisa. Só vocês mulheres que ficam com estas frescuras.
- Que mal agradecido, Celso! Ai, como homem é absurdo! Nós mulheres ficamos lindas e maravilhosas, com as garras todas lindas pra vocês, e vocês teimam em fazer pouco caso do nosso capricho.
- Ana, unha é um detalhezinho.
- Não é não. Faço questão de mantê-las lindas e vermelhas.
- Vai ficar lindo o vermelho contrastando com o preto dos seus dedos quando você tiver de fichar suas digitais lá na delegacia.
- Ah, nossa operação foi bem realizada. Crime perfeito.
- Minha conta que vai ficar vermelha pra poder pagar um advogado pra me livrar deste crime perfeito...
- Besteira, amor. Já passou!
- Mas vermelho ainda vai ficar meu rosto, quando eu aparecer na capa do Meia Hora. Já to até vendo a manchete: “Ladrão de esmalte mostra as garras e é preso!”.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Niver Fê (2)

- Tsc.
- O quê?
- O que o quê?
- Por que você ta chateado?
- Eu?
- É.
- De onde você tirou a idéia de que to chateado?
- Você fez ‘tsc’.
- E o que que tem?
- ‘Tsc’ é a pior expressão do mundo.
- Ai, ai, ai. Lá vem teoria nova.
- ‘Tsc’ é a maneira de se expressar quando não quer falar pra quem está do seu lado que está irritado. Porque falar um pio já aumenta exponencialmente a irritação. E a pessoa pode te encher de perguntas e aumentar ainda mais a irritação.
- Olha, não sei de qual revista feminina você tirou esta informação, se foi Nova, Cláudia, Priscila, se foi da Carrapicho, mas eu to zen, to na paz, to um sossego só.
- Por que fez ‘tsc’ então? Não foi a toa.
- Bobeira.
- O quê?
- Lembrei de uma coisa.
- Fala!
- Não vai me esganar?
- Fa-la, Celso Henrique.
- Esqueci o presente e o cartão da Fê lá em casa.
- Ah, não!
- A gente saiu na correria...
- Poxa, Celso!
- Eu vou pegar o retorno e a gente pega rapidinho. Você pode ficar no carro.
- Não, deixa. A gente já ta super atrasado.
- Amor, não custa nada.
- Não tem problema, a Fê sabe que eu comprei o presente pra ela, vai saber que não é desculpa nossa ao chegar lá de mão abanando.
- Tem certeza?
- E a gente vai ter mais tempo pra pensar numa boa mensagem praquele cartão.
- Tudo bem, eu mesmo me desculpo com a Fê, ta? Dá um beijinho aqui.
- (*smack*)...
- Desculpa, tá?
- Uhum.
- ...
- Tsc.
- Tá bom, tá bom, vou pegar o retorno.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Jaiminho (p.i.) (1)

- Celso.
- Hm. Peraí, cinco minutinhos, to terminando aqui.
- Ahhhh. Eu to com deseeeeeeeejo!
- Mas eu to todo mal vestido, nem tomei banho ainda...
- Não é este desejo... eu quero comer gelatina.
- Ah, ta. Tem lá na geladeira, eu fiz ontem.
- Mas só tem de moraaaaango!
- E não serve?
- Não, eu quero de uuuuuva.
- Amor, em cinco minutos eu fecho uma conta aqui e vamos nós dois fazer a gelatina ta?
- Mas não tem gelatina de uuuuuuuva.
- Já procurou?
- Jáaaaaaaaaaaaaaa.
- Pouts, que dengosa...
- Amor, eu quero choraaaaaar...
- Calma, amanhã eu compro novecentas e trinta e oito caixas de gelatina e a gente faz todas ta?
- Mas, Ceeeelso, eu quero agora!
- Ana, tá tudo fechado.
- O Sendas é 24 horas.
- Ah, Ana, é sério? São onze horas!
- Tudo bem. Seu filho vai nascer roxo e com a cara do Bocão.
- Ana, Ana. Toda vez que você fala uma coisa dessas, minha pressão cai um pouco.
- Pouxa, tanto tempo que não como gelatina de uva...
- Ontem você queria miojo, hoje não quer?
- Não, quero gelatina. E quero agora.
- E se eu fizer miojo com requeijão por cima?
- Agora não adianta, né?! Nosso filho vai nascer roxo, com a cara do Bocão e com o cabelo do Biro-Biro.
- Peraí que vou colocar sal embaixo da língua...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Whatever

- Oi!
- Oi, amor...
- Cansado?
- Ô. (*smack*)
- Como foi a reunião?
- Bufff... foi “uó.”
- Quê?
- Foi muito chata.
- Não foi isso que você falou.
- ã?
- Você falou que a reunião foi “uó”.
- E foi mesmo.
- Hahahaha, você precisa se ouvir, Celso Henrique.
- Que que foi?
- Quem fala “uó” é mulher... ou bicha.
- Claro que não!
- É sim, confie em mim!
- Que besteira...
- Pensa bem: algum dos teus amigos fala “uó”?
- Ah, não sei, deve falar.
- Acho que não... Falar “uó” tem o mesmo peso de falar “me diverti horrores”.
- Qual o problema de “se divertir horrores”?
- “Horrores” também é expressão de mulherzinha.
- Ah, que isso! Preconceito besta ... é gíria, tá na boca de muita gente aí... a mídia usa, a novela usa, o trocador do ônibus usa, todo mundo usa.
- Mais ou menos, né? Com parcimônia!
- Pô, Ana! Papo brabo, ‘cabei de chegar, to puto, reunião chata pra kct...
- “Foi uó” ou foi “chata pra kct”?
- Chata, cansativa, um porre, uma merda, estressante, exaustiva, whatever!
- “Whateeeeeeever”?!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Niver Fê (1)

- Vamos, escreve aí uma mensagem bonita pra Fê.
- Por que eu?
- Porque eu já comprei o presente, você fica responsável pelo cartão.
- Mas a sua letra é mais bonita, escreve você.
- Você pode ditar que eu escrevo.
- Ah, Ana, você sabe que eu não sou bom com as palavras...
- Mas eu to sem inspiração. Poxa, colabora...
- Tá... que tal “Fernanda, feliz aniversário. Beijos, Ana e Celso”?
- Isso até minha afilhada sabe escrever!
- Mas é sincero. “Feliz aniversário” quer dizer que a gente deseja que ela tenha um aniversário feliz! É fácil de entender.
- Nossa, você ta parecendo a Sandy, explicando que o que é imortal não morre no final.
- E se a gente colocasse um poema famoso?
- Pode ser, mas qual?
- “A vida...”...
- “A vida...”? Que mais?
- “A vida é...” ou “Amar é...”...
- Você falou que a gente ia colocar um poema famoso. Se você não percebeu, você está compondo um poema completamente novo... Vamos simplificar, poeta. Que tal: “Fê, um super beijo e muitos gatos na sua vida!”, hein?
- Mas tinha que ser uma reflexão, né? Ta na hora da Fê ficar mais espiritualizada, afinal, ela vai fazer 28...
- Você ta com 29 e tá zero espiritualizado!
- É que com homem é diferente, a gente envelhece mais devagar.
- Você ta chamando a Fê de velha?
- Não, né?
- Quando você quer dizer que “homem envelhece mais devagar” você quer dizer “amadurece”, né?
- Ah, Ana... não vem com este papo brabo não...
- Humpf. Vamos retomar...
- “Fernanda, te desejamos...”
- Não quero saber se você desejar ela não!
- Ana, não complica, to buscando a palavra.
- Ah, bem! Acha esta palavra rápido que gente já tá ficando atrasado!
- Você devia ter comprado um cartão do Garfield! Já vem com mensagem escrita!
- Você gosta de tudo mais fácil!
- Ana, não tenho idéia do que vou escrever! Pra mim, a gente não entrega este cartão, presente já tá bom! Na verdade, estar presente já tá muito bom.
- Me dá este negócio aqui, seu preguiçoso! Vai vestir seu sapato! Nem sei que que vou escrever...
- Já sei! Escreve algum verso de música.
- Ok, mas qual?
- A primeira que você lembrar.
- Que coisa complexa...
- Uma que te inspire....
- (escreve) "Fernanda, Amar é um deserto e seus temores. Beijos, Ana e Celso”.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adriano ('cê tá me ouvindo?)

- Pra você nunca mais falar que eu não sou companheira.
- Ok, mas na hora do jogo não é hora de conversar, tá?
- Ta. Mas vai me explicando preu não pagar mais mico na frente dos seus amigos.
- Aquela foi fod@. Confundir o bandeirinha com torcedor invadindo campo...
- Celso, mas dava pra superconfundir! O cara levantava uma bandeira coloridinha, parecia que tava animando o time!
- Shhhh. O juiz vai apitar e vai começar. Muito simples.
- Mas por que que os jogadores não se posicionam de uma vez mais perto do gol onde eles tem que colocar a bola? Se eu fosse jogador já estaria lá perto há muito tempo!
- Porque não pode.
- Por quê?
- Ana, é tipo vôlei. Cada um tem um campo. Começa no próprio campo. Esta linha divide o campo como a rede divide o campo de vôlei, só que futebol não tem rede, tem esta linha.
- Tem rede sim senhor!
- ...
- A rede do gol!
- Ahhhh, Ana, claro que tem, mas não é a rede que divide o campo, que nem vôlei, tênis, pingue-pongue. Não tem a mesma função.
- Claro, isso deu pra sacar...
- ...
- Corre, corre!
- Você ta torcendo pra quem?!
- Pro Flamengo!
- Isto aí é o Atlético Paranaense. O Flamengo ta de branco.
- Ah tá... falha minha. E eles não se confundem não? Uma hora de vermelho, outra hora de branco...
- Não.
- Estranho. Se estiver acostumado com a outra roupa, vai jogar a bola pro cara do outro time...
- Shhh.
- Cadê aquele cara com cabelo do pica-pau?
- É o Leo Moura, tá machucado, não tá jogando.
- Ahhh, então não reconheço mais nenhum!
- Pô, tem o Adriano.
- Que Adriano?
- Pô, Ana, o Adriano.... este aí ó!
- Geeeente, como eu pude me esquecer deste Adriano?
- Ihhh, olha lá...
- Lembro dele na Copa de 2005!
- 2006.
- É, é... gente, que homão...
- Ihhh. Pode parar!
- Mas ele é enorme!
- Vai, porr@!
- “Vai, puxa vida”. Porr@ é feio, amor!
- Feio é este juiz féladapulta!
- Cruzes! Que agressividade...
- Tá vendo? Adora um cai-cai, marca tudo! Tem que deixar rolar, toda hora pára o jogo!
- Mas tem que esperar o outro levantar! Jogo é importante, mas é bom ser educado, tem tanta criança assistindo! Tem que dar exemplo!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ariana

- Aháaa, peguei!
- O quê?
- Tá checando minhas mensagens! Ciumenta!
- Tô nada!
- Tá vendo quem me ligou!
- Na verdade, eu ia jogar um joguinho, mas acabei sem querer caindo no registro de chamadas...
- Viu?! Depois eu que sou o ciumento da relação!
- Interessante, Celso, uma Ariana te ligou uma vez hoje, duas vezes ontem, uma vez na sexta à noite...
- É a Ariana, a secretária.
- Que secretária?
- Que substituiu a Glória...
- Ã.
- Ih, não vem com “ã” porque você conheceu a Ariana, na festa de fim de ano!
- Eu não lembro!
- Lembra sim, você tava naquela roda do pôquer, ela também tava.
- Lembro não...
- Ah! Já sei! Que foi dupla do Eduardo na sinuca.
- A dupla do Edu foi a Simone!
- Na primeira rodada, porque na segunda foi a Ariana! Lembra?
- Não faço a mínima idéia!
- Ela te mostrou a foto do filho dela...
- Que foto? Que filho?
- O moleque estudou na escolinha da sua afilhada. Vocês ficaram conversando um tempão...
- To te sacando, hein, Celso, ta querendo me enrolar! Tá querendo que eu me preocupe com minha memória fraca e não com estes telefonemas estranhos! Eu tenho cara de boba, mas boba eu não sou!
- Ana! Eu não tenho culpa se você não se lembra!
- Que história engraçada... eu acho que eu não fui nesta festa que você está descrevendo... será que você foi com a Ariana e eu não fui informada???
- Ana, Ana... não bata o pé pra mim!
- “Celso Henrique, Celso Henrique”. Pela última vez, antes que eu comece a te jogar coisas: quem é esta tal de Ariana?
- É aquela que tem uma bolsa Prada que você queria igual!
- Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh tá, a Ariana!

sábado, 3 de outubro de 2009

Djavan (1)

- “Amarelo deserto e seus temores...”

- É “Amar é um deserto”.

- Como assim?

- “Amar é um deserto e seus temores”.

- Não, não é possível.

- Me diz qual deserto é amarelo.

- Todos, quer dizer, a maioria tem areia amarela.

- Tá, faz sentido, mas não é “amarelo”.

- Ah, vai dizer que há anos eu canto esta música errado deste jeito?

- E não canta? Tá com dúvida, joga aí no Google.

- ...

-...

- “Amar é”

- Te disse.

- Então o videokê tá errado.

- Ahã, processa eles.

- Se eu fosse o Djavan, eu processava, fica divulgando a música errado...

- Djavan não deve ter nunca chegado perto de um videokê!

- Ah, ele devia, pra ver se deixa de ser fanho...é tão bom soltar a voz!

- Só não é bom pra quem tá perto!

- Quando eu era novinha, lá em Cabo Frio, tinha concurso de videokê no Natal. Todo mundo da minha família cantava.

- Que bom que não te conhecia!

- Imagina, eu era ótima, ganhava todas! Tem um jeito certo pra ganhar pontuação boa: tem que gritar.

- Repito: que bom que não te conhecia!

- E tem as músicas que se encaixam melhor no seu tom, né? A minha é aquela música do holandês.

- Qual?

- Das antigas! “Eu perguntava ‘tu e o holandês?’, e te abraçava ‘tu e o holandês’”, sabe?

- Não. Nunca ouvi.




(Tânia confessa que canta "A maré, o deserto e seus temores". Ela também recorreu ao PaiGoogle.)

Meus roteiros que nunca dariam certo. (2)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oi?

- Amor, tá pronto.
- Já vou.
- ...
- ...
- Quer que eu te sirva?
- Que que é isso?!
- Isto é um prato que você ainda não conhece chamado salada.
- Parece mais uma reserva florestal.
- Engraçadinho.
- O que é isto?
- Isto se chama rúcula. Rúcula, Celso, Celso, rúcula.
- E isto?
- Isto é agrião.
- E isto por cima?
- Cebolinha.
- Bléee.
- Ai, Celso, parece criança! O que você vai querer?
- Ta difícil escolher entre o capim e a samambaia.
- Prova, joga este molhinho.
- Que que tem nisso?
- Azeite, alho e cebola.
- Você demorou uma hora e meia pra pegar umas folhinhas, misturar azeite com cebola, sabendo que eu tava morrendo de fome?
- Celso, você precisa aprender a comer direito.
- Eu como direito!
- Você tem que se acostumar a comer verde.
- Eu como!
- O que de verde você come, que eu nunca vi?
- Orégano.
- Não vale.
- Guacamole!
- Ah, Celso, você disse ia me ajudar a emagrecer! Você não sabe como é difícil ver você comendo lasanha, estrogonofe, e ter que comer broto de soja!
- Eu disse que ia ajudar a emagrecer, não a passar fome! Isto aqui é dieta de modelo, e eu não quero que você vire um vara-pau!
- De tronco de baobá pra vara-pau vai demorar alguns anos...Tenho que emagrecer uns 8 quilos.
- Que nada.
- Pensa na minha mãe... eu posso ficar que nem ela.
- Tsc.
- Isso mesmo, come tudo...
- Que delícia de seiva bruta.
- Tá gostosinho, vai...
- To me sentindo um ruminante...
- To me sentindo magra. Mentaliza leveza, se deixar levar por uma brisa, com o peso de uma nuvem.
- Com a fome que tô, pensar em nuvem me lembra algodão doce... Só por curiosidade: tem sobremesa, algo com sabor?
- Não. De doce, o único liberado é o bolo no niver da Fê hoje à noite.
- Sabia que era aniversário de alguém!
- Nós vamos, hein? Comprei até presente.
- Onde vai ser?
- No Porcão.
- Oi?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ZzZzZz

- Amor?
- Hm.
- Amor?
- Hmmmm.
- Você ta dormindo?
- Tava.
- Você também não conseguiu pegar no sono?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Oi?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Quê?
- Eu disse “Eu consegui dormir até o momento em que uma voz misteriosa invadiu meu sonho e me trouxe de volta à realidade, o que não me agradou nem um pouco”.
- Você não disse isso tudo!
- ...
- Tá escutando?
- O quê?
- Ó, shhh.
- ...
- Ouviu?
- Uhum.
- O que você acha que é?
- Sua respiração.
- Não, tonto! Ouve!
- ...
- Acho que é um grilo... ou um besouro, ou qualquer outro bicho desses.
- ...
- Não vou conseguir dormir com esse barulho de bicho.
- Mas foi você que escolheu vir pra cá, no meio do mato!
- Mas eu não sabia que era pacote completo: chalé, café da manhã e inseto!
- Vai lá na minha necessaire e pega o tampão de ouvido.
- Você tem necessaire?
- Bolsa.
- Bolsa?
- ... (suspiro)
- ... este trocinho laranja?
- Uhum.
- Você nem viu!
- (levanta o pescoço sem abrir os olhos) Uhum.
- ...
- ...
- Que estranho usar isto! Parece que... que to em outro plano, outra dimensão, vazio, silêncio....parece que to no útero da minha mãe!
- Então fica quietinha por nove meses...
- Muito estranho não ouvir barulho nenhum...
- Não era esta a intenção?
- Não vou usar isto, não! Muito esquisito...
- Então me dá, que to precisando. Tem uma voz chatinha aqui do meu lado que não me deixa dormir.