quarta-feira, 30 de setembro de 2009

M

- Mais alguma coisa? Quer levar esfoliante, hidratante...?
-Ih, sai fora, o único “ante” que uso é desodorante! E olhe lá, tem dias que esqueço.
- Que desnecessário, você. Ai, lembrei: absorvente! Você ta vendo por aí?
- Ali, no balcão. Pede pro balconista.
- Eu não! Longe de mim.
- Qual o problema, Ana?
- Ele vai ficar pensando no meu ciclo menstrual.Vai olhar pra mim pensando se eu to ou não menstruada!
- Pouts, que neura.
- Amor, fala lá com ele pra mim, vai...
- É ruim, hein, ele vai me achar esquisito!
- "Que neura!". Se ele perguntar algo, fala que você sua muito debaixo da axila.
- Ahã, e colocar absorvente de debaixo do suvaco não é nada esquisito?
- Você fala que é pra sua mulher.
- “Oi, vendedor, tudo bem? Onde estão os absorventes? É para minha mulher.” Dã, todo mundo sabe que absorvente é pra mulher.
- Ai, Celso Henrique, por favor, por favor, por favor!
- E outra: se estou acompanhado de você, ele sabe que é pra você.
- O que custa você impedir um pouco o meu constrangimento?
- Ai, tá bom, só vou porque não agüento mais ficar nesta farmácia minúscula.
- ...
- (do balcão) Ana, com ou sem abas?
- Shhhhhhhh, com abas (gesticulando). Fa-la bai-xo.
- ...
- ...
- Fluxo normal ou noturno?
- Ótimo, Celso Henrique, agora todo mundo da farmácia vai saber se eu sou uma cachoeira ou uma torneira pingando. Normal. Não, noturno. Não, normal.
- Normal?
- é.
- ...
- ...
- Pronto, t’aqui.
- Humpf. Brigada.
- Falta só uma coisa.
- O quê?
- Camisinha.... pouts, não tem...
- Ta aqui, ó.
- Mas só tem M.
- Então, não é a que você usa?
- É mais, toda vez que eu compro, eu compro a G também, pra disfarçar.
- Ai, que besteira.
- Besteira nada! Se eu comprar a G, garanto o prestígio. Imagina a cara da mocinha do caixa ao ver que eu uso a M!
- Nossa, que super importante saber o que a mocinha do caixa pensa de você. Se eu estiver atrapalhando alguma coisa entre vocês, é só falar!
- Para de graça.
- Então não leva!
- Não leva?! Tá doida? Eu tenho minhas necessidades!
- Necessidade de provar pra mocinha do caixa se tem pintão! Pega logo, eu pago tudo e você pode ir pro carro.
- Mas ela já me viu com você, sabe que é pra mim.
- Eu posso ser promíscua!
- Ah tá: deixo de ser o pintudo do bairro e passo a ser o corno!
- Anda, Celso, pega logo. Qual problema em ter um pinto médio?
- Shhh!
- Pega!
- Não!
- Tá, coloca no meu bolso bem devagarzinho, pra ninguém ver...
- Ana, não viaja.
- An-da.
- ...
- Isso, agora, vamos ao caixa.
- Ai, que vergonha, Ana! Nunca fiz isso nem quando era moleque.
- Nossa, que esmalte lindo... e caro! Não é possível que um potinho de tinta custe isso tudo!
- Anda, Ana.
- Que roubo este esmalte! Só porque é importado.
- “Que coisa, não? Que roubo! Só tem ladrão neste país”.
- Absurdo, quase um assalto!
- ‘Bora, Ana. Rápido.
- Coloca o esmalte na sua jaqueta, dis-far-ça.
- Quêeee???
- Ou eu conto pra todo mundo que você é M!

Nenhum comentário:

Postar um comentário