segunda-feira, 29 de março de 2010

Na garagem

- Tá confortável?
- Hum, to.
- Certeza?
- To, Celso...
- Ok, então, vamos lá. Pode pegar.
- ...
- Muito bem...
- Tá bom assim?
- Não precisa ser forte, nem fraco, viu?
- Ai, ai.
- Tem que ter segurança no que tá fazendo, entendeu?
- Entendi, Celso! Você fala como se eu nunca tivesse feito isso antes.
- Mas faça como se fosse a primeira vez... passa a mão, sente...
- ...
- E aí?
- Ah, normal!
- Normal?!
- Sinceramente? Igual a todos.
- É completamente diferente! Ele é todo... cuidado... bem acabado...
- Você fala assim porque é seu, aí você acha ele é tuuuudo do melhor!
- Se você tivesse um, acharia a mesma coisa do seu!
- Talvez, talvez, mas... vamos lá...
- Lembre-se: isso é um instrumento de poder.
- Ai, meu Deus, Celso, pára de teoria e vamos pra prática!
- Calma, apressada! Tem que curtir o momento! Existe todo um prazer nisso!
- Eu não to achando graça nenhuma até agora. Podemos continuar?
- Espera...
- Vou tirar ele daqui...
- Não, espera! Antes de colocar ele pra fora, tem que sentir o movimento...
- Você tá falando como se estivesse chapado...
- Como você é impaciente!
- To ficando entediada! A gente mal começou e você não pára de falar do meu ouvido! Você sabe que eu não gosto que você fale o tempo todo nessas horas!
- Por que não?
- Nenhuma mulher gosta de homem que fica tagarelando!
- Ana, eu só quero que tudo ocorra bem. Então, vamos devagar...
- Devagar?! Isso tá inerte! Celso, você me disse que ia me deixar dirigir seu carro! Em 10 minutos, tudo o que fiz foi colocar a mão no volante!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ponto de partida

- Oi.
- Humpf.
- Tudo bem, gata?
- É comigo?
- Claro, você é a única gata por aqui.
- Sério isso?
- Sério, te achei a mais bonita daqui.
- Não, não, você não ta me entendendo: é sério que esta é a sua melhor cantada?
- Bem, não é cantada, dessas que a gente chama de ‘cantada’, afinal, não ia te dizer coisas que todo mundo diz...
- Pára!
- Pára o quê?
- Dá meia volta e começa tudo de novo, porque essa abordagem, não sei não, ta capenga.
- Oi?
- Vai, vamos de novo, eu tava dançando aqui e você chegou.
- Bem... err... oi.
- Oi.
- Você vem sempre aqui?
- Meu querido, isso aqui é uma boate, só abre de noite e no final de semana, então... 'sempre' não é a palavra.
- Hummmm.
- Vai, de novo, ta ruim demais!
- Mas...
- Anda!
- Ta... to meio confuso, mas ... oi.
- Oi.
- Tudo bem?
- É, ta tudo bem.
- Ta ocupada?
- Hum, to dançando.
- Ta sozinha?
- Alô, to com minhas amigas!
- Eu digo sozinha, sem ninguém, sem dar uns beijos na boca, na seca.
- O que te faz pensar que eu to na seca? Eu tenho cara de pega-ning?
- Não, não é bem isso que eu quis dizer...
- Poxa, esperava mais de você.
- Como assim?
- Você ficou me olhando um tempão! Esperava que você fosse, sei lá... mais...
- Mais...?
- Ah, quer saber? Deixa. Isso de você ter umas cantadinhas sem graça... murchei.
- Poxa, eu tentei ser sincero!
- Hoje não rolou. Quem sabe outro dia.
- Logo hoje que uma cigana disse que eu ia encontrar a mulher da minha vida...
- Jura?!!
- Aham, ela foi tão convincente... caí como um bobo, essas coisas de a gente acreditar em esoterismo...
- Mas era cigana de verdade, ou era louca varrida dessas que anunciam que o mundo vai acabar?
- Cigana de verdade.
- Tem certeza?
- Tinha até dente prateado.
- Gente! Onde foi isso?
- Tava na rua, ela me olhou nos olhos, pegou em minhas mãos, apertou bem forte...
- E aí?!
- E aí ela revirou os olhos e ela passou o dedo na minha palma...
- Sei! Ela tava lendo a linha da vida! E aí?!
- Achei difícil ela estar lendo, afinal os olhos estavam revirados... mas enfim, ela falou que era hoje - tinha que ser hoje- que ia achar a mulher que me completaria.
- Que coisa cósmica!
- Falou que tinha cabelos escuros, lisos...
- Nossa!
- Pois é, disse até que a mulher da minha vida se chamaria...
- ...
- ...
- Ana? Ela disse Ana?
- Ana! Isso mesmo! Você se chama Ana?
- Chamo!
- Caramba! Ana, prazer, Celso Henrique. Vamos para um lugar menos barulhento pra gente conversar melhor?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pra não passar em branco

- E aí, gata, decidiu o que vai querer de aniversário?
- Ah, não sei, não to muito certa...
- Ah, faz alguma coisa pra não passar em branco...
- (*suspiro*) A verdade é que quero mudar...
- Mudar? Por quê?!
- Ah, cansei...
- Poxa, Ana, to usando metade do meu salário só pra pagar o financiamento deste apartamento! Você queria tanto esta casa, planejou milhares de reformas! Você tem até closet! Que mulher hoje em daí tem o luxo de ter um closet?! Desenhou o banheiro do jeito que você queria e eu até tive que bater de frente com o arquiteto! Isso sem falar na cozinha, que a gente teve que fazer milagre pra poder colocar aquela bancada onde você queria! Tudo do seu jeito, na cor que você queria, com o piso que você queria, com os móveis que você escolheu! Não vem me dizer agora que cansou, que precisa mudar! Olha, se isso for coisa hormonal, de TPM... me poupa, né?
- Por que homem justifica qualquer comportamento instável de mulher pela TPM?
- Humpf, só pode ser né, querer mudar assim, de uma hora pra outra!
- Celso. Respira. Eu quero mudar, mas mudar meu cabelo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A B C

- Vamos lá, sua, vez, etapa final do teste...
- Não sei porque você dá bola pra estes testes de revista...
- É pra gente se conhecer melhor!
- Depois de três anos juntos, vai ser uma revista que vai ajudar a gente a se descobrir? Poderosa esta revista, hein?
-Vamos lá, falta pouco. “A primeira impressão que as pessoas têm da sua namorada: a) ela é simpática, b) ela é discreta ou c) ela é animada?”
- D, esquisita.
- Celso...
- C então...
- “Se sua namorada fosse uma cor, seria: a) branco, b) cinza ou c) azul?”
- Não é possível que uma pessoa possa ser definida por uma cor! Isto é racismo, hein?!
- E aí? Responde.
- Branco.
- Por quê?!
- Porque... porque branco é a cor do vestido seu de noiva...
- Ahmmm, boa!!!
- Porque você é muito pacífica...
- É, um pouco...
- Porque você não toma sol faz tempo...
- Engraçadinho... “Se sua namorada fosse um animal, qual seria: a) um hamster, b) uma zebra ou c) um periquito?”
- Isso é sério mesmo? Qual a base científica deste teste?
- Vai, Celso!
- Acho que um hamster, mas to muito sem critério.
- Ai, Celsô, me chamou de rato!
- Mas dá uma olhada nas opções! Não dá, né!
- Humpf. “Qual seria a reação da sua namorada caso ela descobrisse uma traição: a) choraria, mas perdoaria; b) devolveria os presentes que você deu a ela e terminaria ainda que contrariada ou c) te desejaria boa sorte?”
- E aí?
- Você que tem que responder!
- Sei lá. Choraria?
- Nem morta, meu filho! To a anos-luz desta opção! Não sou movida a sentimentos deste tom.
- Que que faria então?
- Rasgaria todas as suas roupas, jogaria seu computador embaixo da torneira...
- Como é que vou responder isso?! ‘Boa sorte’ não é sua cara nunca...então, B.
- Vamos lá, a última: “Qual é o pior defeito dela: a) dramática, b) controladora ou c) intolerante?”
- Só pode um?
- Aham.
- Tem certeza? Porque esta tá muito difícil...
- Ai ai, você ta engraçaaado.
- Hum ... A.
- Como assim, dramática?! Eu? Celso? Logo eu que sou uma pessoa compreensiva e amável com você! Não to acreditando, isso magoa! Ai, até senti uma pontada no coração!
- Ta vendo? Você já gritou, já baixou a atriz!
- Mas é porque eu to surpresa...
- Tá, B, controladora.
- Acho bom você pensar bem no que você fala sobre mim, antes que sofra as conseqüências...
- Tá vendo!
- Isso é muito grave, Celso, muito grave. Eu, controladora! Era só o que me faltava.
- Ta, ta, ta bom, c, intolerante!
- Que resposta idiota, Celso. I-di-o-ta.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Proposta

- Que foi que você ta me olhando assim?
- Nada, amor.
- Nada? Ta com uma carinha... hehehe... me olhando fixamente nos olhos...
- Ah... andei pensando uma coisa...
- Uma só?
- Ai, ai...Você confia em mim?
- Tem que responder agora?
- Celso...
- To brincando, claro que confio.
- Tenho uma proposta.
- Oi?
- Vamos dar um passo a frente na nossa relação, um voto a mais de confiança?
- Ana, esse papo de novo...
- Calma...
- Você sabe como eu me sinto em relação a isso...
- Mas amor, sou eu! Sua namoradinha há tanto tempo!
- É aí que mora o perigo!
- Mas eu vou ser cuidadosa!
- Sei lá, as coisas caminham tão bem hoje e vão evoluir naturalmente... No dia certinho, em que eu me sentir a vontade e você estiver preparada, vai rolar, não vai doer pra ninguém!
- Bom, pode dor um pouquinho...
- Então, amor, você sabe que eu tenho medo...
- Medo? Uma coisa tão simples, Celso!
- Simples, Ana? Você acha que é simples, tomar uma decisão que vai mudar completamente a sua vida? Fazer você ver tudo sob uma ótica diferente?
- Amor, é mudar pra melhor! E ó, é uma coisinha assim, pequenininha, vai!
- Pra você!
- Ok. A verdade é que está me incomodando.
- Por quê? É tão ruim assim?
- Ah, você sabe que não suporto gente monocelha, é feio!
- Ã?
- Você tem que confiar em mim! Vou tirar só uns pelinhos do meio... vai limpar sua aparência...
- Ahhh, você quer fazer minha sobrancelha?
- Aham.
- Ah, mete bronca.
- Brigada, amor. Não te peço mais nada!
- Ah, assim espero.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tcharã (2)

- (*buff buff buff*)
- Ana?
- Alô? Celso? Tá me ouvindo?
- Tô, que houve?
- Ai! Ave Maria, to pagando meus pecados!
- Oi? Que que você falou?
- Num to aguentaaaando....
- Ana? Você ta bem?
- Já... já estive muito melhor. Aiiii...
- Ana? Que que houve?
- Ai, Celso. Amor, vem me buscar?
- Claro, claro. Onde você ta?
- To aqui na esquina da Nilo Peçanha, com a Graça Aranha...
- Ok, vou só avisar aqui... salvar um documentos...
- Anda, vem logo!
- Ana, que que houve? Você ta me preocupando!
- Um aci...dente. Ai, peraí, deixa eu tomar fôlego!
- Ana....
- Gê-zus. Ai, amor, vem logo que não agüento andar!
- Ta, já to indo, mas não entendendo nada. O que você tem?
- Dor, muita muita muita dor!
- Muita?
- Muitíssississima.
- Quebrou braço, perna?
- Não, não... isso não.
- Dor no peito?!
- Não...
- No braço? Ta formigando, algo assim?
- Não... dói o pé!
- Dor no pé? Será que é pressão? Vê se ele ta inchado.
- Antes estivesse inchado.
- Como assim?
- Meu salto. O sapato era meio larguinho, aí o salto....ui... ficou preso nas pedras portuguesas... quebrou...
- Meu pai do céu, e lá vamos nós de novo...
- Onde você vai? Vai vir me buscar, né?
- Você me chamou, fez esse drama todo pra me falar que seu salto quebrou?
- Drama?! Claro que não! O salto quebrou, to andando torta, e agora eu to com uma baita bolha no calcanhar e outra na sola do pé! Estou ferida, Celso, fe-ri-da!
- Compreendo. Que bom que você paga o plano de saúde, afinal, bolha no pé é grave!
- Ceeeeelso! Sabe? Desisto! Só sendo mulher pra entender!
- Olha o draaaaama...
- Celso! Clemêeencia! Não basta a dor que eu to sentindo, to pagando um micão andando na rua toda torta igual ao Corcunda de Notre Dame! Você não sabe o que eu to passando!
- Sei sim, ta lembrado daquele baile a fantasia? Você de cigana....
- Hum. Arrasei, né? Ai...
- Ô. Qual era a minha fantasia?
- Humpf.
- Opa, não te ouvi.
- ...Corcunda.
- Tcharã!
- Tsc, vou pegar um táxi. Beijo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Parabéns!

- Oi, amor!
- Oi, linda!
- Sabe que dia é hoje?
- Aham.
- Que dia é?
- Quinta-feira.
- Nãaao... que dia é hoje?
- Como assim?
- Hoje é uma data especial!
- Ahhhhhhhm, é verdade!
- Então...
- Parabéns, linda! (*smack*)
- Como assim, ‘parabéns’?
- Parabéns, ué.
- Parabéns?! Que aleatório!
- Por quê?
- Você tem alguma noção do significado da palavra ‘parabéns’?
- Pô... tenho.
- Qual?
- Ah, você sabe.
- Quero escutar sua interpretação.
- Sério? Você quer saber o que é parabéns?
- Seríssimo.
- Ai, Ana... já entendi, você quer que eu me ferre na explicação para você poder demonstrar o quanto é sabida!
- Que absurdo!
- Vai falar que não é verdade?
- Tá. É verdade.
- Então, vamos lá, ó grande sabedora do léxico. Não sei o que é ‘parabéns’. Me faria o obséquio de informar o que significa tal palavra?
- Parabéns podia ser ‘para-males’. Mas é para o bem, então é “para bens”. Você diz que espera que apenas aconteçam as coisas para o bem. Só deve ser dito quando houver um acontecimento importante que acabou de acontecer.
- É, faz sentido. Medalhinha léxica pra você.
- E então?
- Hum, ‘parabéns’ não cabe pra ocasião, né?
- Não, né!
- Então.... muitos anos... muitos... meses, muitos dias para comemorar aquele nosso grande momento!
- Aí sim!
- Que sempre possamos comemorar assim, juntos, no companheirismo, na cumplicidade...
- No respeito...
- Com certeza, no respeito, na gratidão...
- Na admiração que temos um pelo outro...
- Pô... Tirou as palavras da minha boca, Ana!
- Você não tem noção de que dia é hoje, não é mesmo?
- Hummmm, não... só sei que a gente tá de parabéns, não estamos?
- Vou te fazer engolir minha medalhinha léxica, Celso Henrique!