sexta-feira, 26 de março de 2010

Ponto de partida

- Oi.
- Humpf.
- Tudo bem, gata?
- É comigo?
- Claro, você é a única gata por aqui.
- Sério isso?
- Sério, te achei a mais bonita daqui.
- Não, não, você não ta me entendendo: é sério que esta é a sua melhor cantada?
- Bem, não é cantada, dessas que a gente chama de ‘cantada’, afinal, não ia te dizer coisas que todo mundo diz...
- Pára!
- Pára o quê?
- Dá meia volta e começa tudo de novo, porque essa abordagem, não sei não, ta capenga.
- Oi?
- Vai, vamos de novo, eu tava dançando aqui e você chegou.
- Bem... err... oi.
- Oi.
- Você vem sempre aqui?
- Meu querido, isso aqui é uma boate, só abre de noite e no final de semana, então... 'sempre' não é a palavra.
- Hummmm.
- Vai, de novo, ta ruim demais!
- Mas...
- Anda!
- Ta... to meio confuso, mas ... oi.
- Oi.
- Tudo bem?
- É, ta tudo bem.
- Ta ocupada?
- Hum, to dançando.
- Ta sozinha?
- Alô, to com minhas amigas!
- Eu digo sozinha, sem ninguém, sem dar uns beijos na boca, na seca.
- O que te faz pensar que eu to na seca? Eu tenho cara de pega-ning?
- Não, não é bem isso que eu quis dizer...
- Poxa, esperava mais de você.
- Como assim?
- Você ficou me olhando um tempão! Esperava que você fosse, sei lá... mais...
- Mais...?
- Ah, quer saber? Deixa. Isso de você ter umas cantadinhas sem graça... murchei.
- Poxa, eu tentei ser sincero!
- Hoje não rolou. Quem sabe outro dia.
- Logo hoje que uma cigana disse que eu ia encontrar a mulher da minha vida...
- Jura?!!
- Aham, ela foi tão convincente... caí como um bobo, essas coisas de a gente acreditar em esoterismo...
- Mas era cigana de verdade, ou era louca varrida dessas que anunciam que o mundo vai acabar?
- Cigana de verdade.
- Tem certeza?
- Tinha até dente prateado.
- Gente! Onde foi isso?
- Tava na rua, ela me olhou nos olhos, pegou em minhas mãos, apertou bem forte...
- E aí?!
- E aí ela revirou os olhos e ela passou o dedo na minha palma...
- Sei! Ela tava lendo a linha da vida! E aí?!
- Achei difícil ela estar lendo, afinal os olhos estavam revirados... mas enfim, ela falou que era hoje - tinha que ser hoje- que ia achar a mulher que me completaria.
- Que coisa cósmica!
- Falou que tinha cabelos escuros, lisos...
- Nossa!
- Pois é, disse até que a mulher da minha vida se chamaria...
- ...
- ...
- Ana? Ela disse Ana?
- Ana! Isso mesmo! Você se chama Ana?
- Chamo!
- Caramba! Ana, prazer, Celso Henrique. Vamos para um lugar menos barulhento pra gente conversar melhor?

4 comentários:

  1. hahahahaha foi a melhor de todas!!! saí até do meu micro-mundo-do-rss e vim aqui comentar! ;)
    Sou seu fão!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Sensacional! Virei seguidora depois dessa.. hahaha
    Parabéns! Parabéns!

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