sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tcharã

- “Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô. Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelaaaaas”! Tcharã!
- Ana... que que é isso?
- Minha fantasia!
- É de mendiga?
- Não!
- Doida?
- Cigana!
- É, só por adivinhação mesmo...
- Chato! Eu adorei.
- Precisa desses penduricalhos todos assim?
- Aham.
- Fica fazendo barulhinho de mimosa, sabe? Daquelas vacas com sino no pescoço.
- Credo, Celso Henrique! Eu achei que você ia adorar.
- Você tá bonitinha...
- Não ouvi!
- Tá bom, você tá linda!
- Adoro sua sinceridade! Quer ver a sua fantasia?
- Eu já tenho! Você ta indo com o choppe, eu já to voltando de ressaca! Vou de surfista. Só colocar bermudão e chinelão!
- Nada disso! Coisa sem graça! Tem que ter criatividade! Por isto, a mamãe aqui mandou fazer.... tcharã!
- Peter Pan?!
- Não, tolinho! Corcunda de Notre Dame! Duplinháaaa!
- Pultaqueoparil, né?
- Qual o problema?
- “Qual o problema?!” Você ta indo de barriga e pernas de fora! Qual minha moral em ir de deformado e corcunda?
- Que exagero! Celso, alô, super original! A gente vai ganhar o prêmio de dupla fantasiada!
- Do quê?!!!
- Ah, não, tem que estar animado!
- Me animar, como? Se é possível de o povo ainda apoiar o copo de cerveja nas minhas costas?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha tia

- Alô!
- Celso Henrique de Matos Caludo. Onde o senhor está?
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Onde você está?
- Onde eu to?
- Não me responde com pergunta!
- Eu?
- Não, minha tia.
- Hein?
- Celso. Onde você tá?
- To saindo do trabalho.
- Mentira! Liguei pra Ariana já faz uma hora e ela disse que você saiu!
- Na verdade, eu to no caminho de volta do trabalho.
- Que barulho foi este?
- Barulho?
- Não me responde com pergunta!
- Não sei! Foi um troço aqui!
- Onde você ta, Celso? Você está me cansando. Eu estou sem paciência.
- Eu dei carona pros caras, aí...
- Que “caras”?
- Os... caras.
- No-mes.
- Ah, o Edu, o Flavio... o...
- Tem mulher no meio?
- Não! De jeito nenhum!
- Hum, sei... que que foi isso?
- Isso o que?
- Porque você ta respirando ofegante?!!!!
- Eu?
- Não, a $%#%& da minha tia!
- Quê?
- Celso, me fala: você está num prostíbulo?
- Hein?! Claro que não!
- Tem certeza? Vamos ser adultos e encarar isto de frente.
- Ana, que absurdo!
- Você ta numa boate de strippers?
- Ana!
- Estou tentando ser uma mulher centrada e moderna. Quero apenas a sua sinceridade para que esta relação tenha futuro.
- To jogando bola.
- O quêeee?
- Jogando bola.
- Eu vou te mataaaaaaaaaaaaaar, desgraçaaaaaaaado!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ranger

- Alô?
- Oi, amô-ô!
- Que que houve? Quando você me liga cheia de firula é porque quer pedir algo ou porque fez merdinha...
- Cruz credo, Celso Henrique, um bom dia pra você também!
- Fala, Ana.
- Sabe retrovisor?
- Sei.
- Sabe seu carro?
- Sei. Que que houve?!
- Então, seu carro não tem mais retrovisor.
- Como assim?!
- Eu tava tirando o carro da garagem, o féladapulta do 304 estacionou o Ranger dele bem na frente!
- Ana, Ana, Ana...
- Sabe, Celso, o Ranger é muito grande, e o cara nem deixou espaço pra manobra, aí...
- Eu já falei para você tratar meu carro como se fosse seu cabelo, Ana! Pultaqueoparil.
- Deixa eu terminar, senhor esquentadinho?
- Pultaqueoparil, meu carro, Ana! Você sabe o cuidado que tenho com ele! Não posso deixá-lo um dia na sua mão que você tem que destruir alguma coisa! Não é possível!
- Aí, quando saí do prédio, três homens cercaram o carro.
- Ã???
- Eles tinham acabado de assaltar uma loja, roubaram seu precioso carro...
- Meu Deus!
- A polícia soube do assalto, recolheu informações dos assaltantes e descobriu que eles eram uma facção master criminosa. Perseguiram os caras...
- E aí?!
- E aí que eles perderam a direção do carro. Perda total, lindo. Capotaram, voaram corpos para tudo que é lado. Sangue, tripa, globo ocular...
- Ana, você ta bem?
- To ótima, você que não tá: acharam que você tava dentro do carro, porque um dos ladrões ficou deformado, aí você foi dado como morto. Ligaram pra sua mãe...
- Sério?
- Claro que não, Celso Henrique! Isso pra você aprender que um retrovisor não é tudo na vida!
- Carálio, Ana, eu vou... pultaqueoparil, você quase me mata do coração!
- Desculpa, benhê, mas olha: o Ranger é muito grande! Você devia dar um chega-pra-lá no cara do 304. Muito abusado pro meu gosto!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A maldade está na cabeça das pessoas

- Vai pro lado, Celso.
- Pra cá?
- Uhum. Ahm, não... mexe pro outro.
- Assim?
- Aham. Não aconteceu nada... mais pra frente.
- Ê ê ê, se decide.
- Não sei... tem alguma coisa errada! Não era assim...
- Ó, vou fazer do meu jeito.
- Assim você vai quebrar! Ta apertando com tanta força!
- Ué, sempre apertei assim, é o jeito que funciona.
- Eu vou toda delicadinha e sempre deu certo...
- Se liga e aprende com toda a habilidade do mestre!
- Aham, mestre, ta, sei...
- Eu sei que sou o melhor nisso, são anos de prática.
- O fato de você ter mais prática que eu não significa muita coisa.
- Como não? Eu sei de todos os segredos!
- Mas aquela madrugada que a gente virou, eu me saí muito melhor que você!
- O que você considera... melhor?
- Ah, tudo, todo o conjunto. Você babou na minha performance, nunca imaginou que eu conseguiria chegar até o final.
- No começo você tava mal, mas na segunda vez melhorou, mas só um pouco.
- Ah, eu fui ótima, confessa! Era minha primeira vez, eu nunca tinha tentado!
- É... pra primeira vez... foi satisfatório.
- Hahaha, Celso, você precisa se ver! Aos poucos você vai mexendo pro lado, depois pro outro, vira língua!
- Tá, tá, se você ficar falando, vou perder a concentração.
- Mas eu não vou ficar muda!
- Fala só o necessário, então.
- Você fica tão marrento jogando videogame...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Niver Fê (4)

- Ai, to tão cheia...
- Pouts, comi muito também.
- É tão ruim a gente se sentir assim...
- Ah, eu to muito bem! Pra quem comeu rúcula no almoço...
- To tão cheia, mas tão cheia que não consigo alcançar os pés pra tirar o sapato...
- Nem tento alcançar os pés. Já vou desabotoando a calça para aliviar aos poucos...
- Celso Henrique, você está desde que momento com esta calça aberta deste jeito?
- Desde antes do parabéns! Tava lotado já!
- Me mata de vergonha, Celso...
- Vergonha é o preço que este Porcão cobra. Tenho direito de andar com a calça desabotoada naquele lugar.
- Tão caro, né?
- Pô...
- Além de eu me sentir mal por ter comido tanto, eu fico mal pelos animais.
- Que animais?
- As vaquinhas, os boizinhos que morreram pra gente ir à forra de carne hoje...
- Agora você se sente mal, né? Tava lambendo os beiços comendo vaquinha e boizinho.
- Ai, Celso, aqueles animais têm família. Têm mãe, pai, filho... alguém se importava com eles...
- Se deram mal, to no topo da cadeia alimentar.
- Que insensibilidade... Logo quando a gente tava saindo, vi um casal comendo carne mal passada, tinha uma poça de sangue no prato... que dó.
- Dó, nada, que delícia, isso sim.
- Imagino aqueles animais comendo, pastando, sem saber o que o destino lhes reserva.
- Quantas caipirinhas você bebeu?
- Seis, mas eu to bem...
- Ahã.
- Imagino eles indo pro abate... dou muita razão pra estes grupos de protesto contra a matança dos animais. Taí, vou procurar uma ONG de proteção aos animais.
- Consigo imaginar você no meio de um protesto. Seria a primeira ser presa.
- Celso, é sério! É crueldade com os animais. A gente mata sem piedade no coração, só pro nosso bem estar, não é nem por necessidade! A gente não precisa comer aquele tanto de carne pra sobreviver!
- Ana, amor, lindinha... você comeu a média, afinal, comeu só folha no almoço, então equilibrou...
- Ai, to mal, vou lá no banheiro escovar os dentes pra dormir, isto se eu conseguir dormir... to me sentindo tão culpada! Vou até ter indigestão...
- Aproveita e passa o fio dental, pra tirar os restos mortais das vaquinhas que ficaram na sua boca!
- Seu bobo.... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Amoooooor!
- Quié?
- Vem cá matar um bicho, aqui! Anda logo! Ahhhhhhhhhh, ta vindo pra cima de mim!
- (Pá de chinelada!)...
- Argh! Que nojo! Odeio bicho.







Parabéns, Fê!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aquilo.

- Celso, ‘cê ouviu?
- Aham.
- Eles tão...?
- Tão!
- De novo?! Essa menina só sabe gemer na vida dela?
- Pelo menos, alguém se diverte nas noites de domingo né?
- Que que você falou?
- Você tá com inveja do pique dela...
- Shhh. Que que ela falou?!
- Falou “Ai, Everton!”.
- Tem certeza?
- Aham.
- Que que ela falou agora?
- Falou “Ai, Éeeeeeeverton”.
- Tem certeza?
- Ou Edson... Ou Epson...
- Que escândalo!
- Ah, que nada! Mulher às vezes tem que dar uns gritinhos mesmo! Deixa ela se divertir!
- Não é isso! O namorado dela chama Rubens!
- Ih, rapá, o mais novo corno do prédio! Do jeito que ela grita, todo mundo vai saber.
- Peraí.
- Onde você vai?
- Vou pegar um copo e colocar na parede, pra escutar melhor.
- Isso é sacanagem né?
- Tudo indica que sim, né!
- Nãaaao, to dizendo... você tem artimanhas para bisbilhotar o vuco-vuco dos outros?!
- Ah, Celso! Você nunca fez isto?
- A vida dos outros não me interessa, o jeito que os outros trepam não me interessa...
- Shhh! Fala baixo! Parece que tem mais alguém lá!
- Me dá este copo...
- Ué! A vida dos outros não te interessava!
- Eu to ouvindo sob protesto, pelo bem da informação. Eu escuto melhor que você.
- Ta ouvindo?
- To. É mulher! Que ma-ra-vi-lha! Duas mulheres! Nunca imaginei que nossa vizinha fosse tão safada!
- Celso Henrique! Pára de pular na cama! Isso aqui vai desmontar! Me dá o copo ...
- (pula pula pula)
- A outra não cala a boca, é do tipo que fala na cama.
- Que legal! (pula pula pula)
- Que gente estranha... pára de pular! Deixa eu ouvir!
- ...
- Ah, é a Patrícia Poeta! A tevê ta ligada!
- Ahhhh! Se fosse a Patrícia Poeta ia ser muuuuuuuuuuuito manero!
- Ficaram quietos.
- Ahm?
- Ai, Celso Henriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiique!
- Que foi?! Tá doida?
- Ela ouviu o barulho da cama e colocou um copo na parede! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh, Celso Henriquêeeemmmmmm!
- Você ta parecendo um gato que acabou de tomar banho de água fria.
- Colabora ou eu começo a gritar o nome de outro homem, e você vai ser conhecido como o mais novo corno do prédio!
- (pula pula pula).

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Niver Fê (3)

- Ai, Celso, vamos mudar de lugar?
- Vamos... mas por quê?
- To na reta de uma menina ali que eu não gosto.
- Que menina?
- Aquela dali de laranja... vamos, chega pra lá. (*swap*) Quero evitar o contato visual desta Medusa.
- Não conheço a Medusa.
- Ih, é das antigas... Insuportável.
- E o que ela fez?
- Nasceu.
- Mas o que ela te fez?
- Quando eu tinha 7 anos, a gente morava no mesmo prédio. Em um dos aniversários dela, ela fez uma festinha da pizza e não me chamou.
- E...?
- E quando a gente tava na 6ª série, ela quebrou a perna e não fazia educação física. Ficava de fora, só rindo da minha cara. Palhaça, eu não tenho culpa de ser descoordenada! É de família!
- E...?
- E quando eu fiz 15 anos, eu pedi pra minha mãe o intercâmbio pros EUA, e ela me copiou: pediu a mesma coisa pra mãe dela. Eu não fui, e ela foi.
- Nossa, quantos motivos relevantes! Esse ódio é semelhante aquele que motiva o conflito entre judeus e palestinos!
- Ah, Celso! É coisa de mulher. Você nunca vai entender.
- Fala sério, Ana! Você fica cultivando rusga com a menina desde o berçário! Tudo isso aí que você falou: só bobeira. Ela não roubou nenhum namorado seu, nunca te difamou, nunca...
- Ah, Celso Henriquê! Tá bom! Meu santo não bate com o dela porque ela come pizza, não faz educação física, morou nos EUA e sempre foi mais magra que eu! Satisfeito agora, satisfeito?
- É impressão minha ou ela está com o mesmo vestido que o seu?