sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oi?

- Amor, tá pronto.
- Já vou.
- ...
- ...
- Quer que eu te sirva?
- Que que é isso?!
- Isto é um prato que você ainda não conhece chamado salada.
- Parece mais uma reserva florestal.
- Engraçadinho.
- O que é isto?
- Isto se chama rúcula. Rúcula, Celso, Celso, rúcula.
- E isto?
- Isto é agrião.
- E isto por cima?
- Cebolinha.
- Bléee.
- Ai, Celso, parece criança! O que você vai querer?
- Ta difícil escolher entre o capim e a samambaia.
- Prova, joga este molhinho.
- Que que tem nisso?
- Azeite, alho e cebola.
- Você demorou uma hora e meia pra pegar umas folhinhas, misturar azeite com cebola, sabendo que eu tava morrendo de fome?
- Celso, você precisa aprender a comer direito.
- Eu como direito!
- Você tem que se acostumar a comer verde.
- Eu como!
- O que de verde você come, que eu nunca vi?
- Orégano.
- Não vale.
- Guacamole!
- Ah, Celso, você disse ia me ajudar a emagrecer! Você não sabe como é difícil ver você comendo lasanha, estrogonofe, e ter que comer broto de soja!
- Eu disse que ia ajudar a emagrecer, não a passar fome! Isto aqui é dieta de modelo, e eu não quero que você vire um vara-pau!
- De tronco de baobá pra vara-pau vai demorar alguns anos...Tenho que emagrecer uns 8 quilos.
- Que nada.
- Pensa na minha mãe... eu posso ficar que nem ela.
- Tsc.
- Isso mesmo, come tudo...
- Que delícia de seiva bruta.
- Tá gostosinho, vai...
- To me sentindo um ruminante...
- To me sentindo magra. Mentaliza leveza, se deixar levar por uma brisa, com o peso de uma nuvem.
- Com a fome que tô, pensar em nuvem me lembra algodão doce... Só por curiosidade: tem sobremesa, algo com sabor?
- Não. De doce, o único liberado é o bolo no niver da Fê hoje à noite.
- Sabia que era aniversário de alguém!
- Nós vamos, hein? Comprei até presente.
- Onde vai ser?
- No Porcão.
- Oi?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ZzZzZz

- Amor?
- Hm.
- Amor?
- Hmmmm.
- Você ta dormindo?
- Tava.
- Você também não conseguiu pegar no sono?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Oi?
- Ahmmm mmmm mmmmm.
- Quê?
- Eu disse “Eu consegui dormir até o momento em que uma voz misteriosa invadiu meu sonho e me trouxe de volta à realidade, o que não me agradou nem um pouco”.
- Você não disse isso tudo!
- ...
- Tá escutando?
- O quê?
- Ó, shhh.
- ...
- Ouviu?
- Uhum.
- O que você acha que é?
- Sua respiração.
- Não, tonto! Ouve!
- ...
- Acho que é um grilo... ou um besouro, ou qualquer outro bicho desses.
- ...
- Não vou conseguir dormir com esse barulho de bicho.
- Mas foi você que escolheu vir pra cá, no meio do mato!
- Mas eu não sabia que era pacote completo: chalé, café da manhã e inseto!
- Vai lá na minha necessaire e pega o tampão de ouvido.
- Você tem necessaire?
- Bolsa.
- Bolsa?
- ... (suspiro)
- ... este trocinho laranja?
- Uhum.
- Você nem viu!
- (levanta o pescoço sem abrir os olhos) Uhum.
- ...
- ...
- Que estranho usar isto! Parece que... que to em outro plano, outra dimensão, vazio, silêncio....parece que to no útero da minha mãe!
- Então fica quietinha por nove meses...
- Muito estranho não ouvir barulho nenhum...
- Não era esta a intenção?
- Não vou usar isto, não! Muito esquisito...
- Então me dá, que to precisando. Tem uma voz chatinha aqui do meu lado que não me deixa dormir.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

M

- Mais alguma coisa? Quer levar esfoliante, hidratante...?
-Ih, sai fora, o único “ante” que uso é desodorante! E olhe lá, tem dias que esqueço.
- Que desnecessário, você. Ai, lembrei: absorvente! Você ta vendo por aí?
- Ali, no balcão. Pede pro balconista.
- Eu não! Longe de mim.
- Qual o problema, Ana?
- Ele vai ficar pensando no meu ciclo menstrual.Vai olhar pra mim pensando se eu to ou não menstruada!
- Pouts, que neura.
- Amor, fala lá com ele pra mim, vai...
- É ruim, hein, ele vai me achar esquisito!
- "Que neura!". Se ele perguntar algo, fala que você sua muito debaixo da axila.
- Ahã, e colocar absorvente de debaixo do suvaco não é nada esquisito?
- Você fala que é pra sua mulher.
- “Oi, vendedor, tudo bem? Onde estão os absorventes? É para minha mulher.” Dã, todo mundo sabe que absorvente é pra mulher.
- Ai, Celso Henrique, por favor, por favor, por favor!
- E outra: se estou acompanhado de você, ele sabe que é pra você.
- O que custa você impedir um pouco o meu constrangimento?
- Ai, tá bom, só vou porque não agüento mais ficar nesta farmácia minúscula.
- ...
- (do balcão) Ana, com ou sem abas?
- Shhhhhhhh, com abas (gesticulando). Fa-la bai-xo.
- ...
- ...
- Fluxo normal ou noturno?
- Ótimo, Celso Henrique, agora todo mundo da farmácia vai saber se eu sou uma cachoeira ou uma torneira pingando. Normal. Não, noturno. Não, normal.
- Normal?
- é.
- ...
- ...
- Pronto, t’aqui.
- Humpf. Brigada.
- Falta só uma coisa.
- O quê?
- Camisinha.... pouts, não tem...
- Ta aqui, ó.
- Mas só tem M.
- Então, não é a que você usa?
- É mais, toda vez que eu compro, eu compro a G também, pra disfarçar.
- Ai, que besteira.
- Besteira nada! Se eu comprar a G, garanto o prestígio. Imagina a cara da mocinha do caixa ao ver que eu uso a M!
- Nossa, que super importante saber o que a mocinha do caixa pensa de você. Se eu estiver atrapalhando alguma coisa entre vocês, é só falar!
- Para de graça.
- Então não leva!
- Não leva?! Tá doida? Eu tenho minhas necessidades!
- Necessidade de provar pra mocinha do caixa se tem pintão! Pega logo, eu pago tudo e você pode ir pro carro.
- Mas ela já me viu com você, sabe que é pra mim.
- Eu posso ser promíscua!
- Ah tá: deixo de ser o pintudo do bairro e passo a ser o corno!
- Anda, Celso, pega logo. Qual problema em ter um pinto médio?
- Shhh!
- Pega!
- Não!
- Tá, coloca no meu bolso bem devagarzinho, pra ninguém ver...
- Ana, não viaja.
- An-da.
- ...
- Isso, agora, vamos ao caixa.
- Ai, que vergonha, Ana! Nunca fiz isso nem quando era moleque.
- Nossa, que esmalte lindo... e caro! Não é possível que um potinho de tinta custe isso tudo!
- Anda, Ana.
- Que roubo este esmalte! Só porque é importado.
- “Que coisa, não? Que roubo! Só tem ladrão neste país”.
- Absurdo, quase um assalto!
- ‘Bora, Ana. Rápido.
- Coloca o esmalte na sua jaqueta, dis-far-ça.
- Quêeee???
- Ou eu conto pra todo mundo que você é M!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Meus roteiros que nunca dariam certo. (1)







Certas coisas jamais precisariam de retoque. (atenção: "meus roteiros" é piadinha).



Alô 2

- “Eu fui dar, mamãe! Fui dar uma hora extra pro patrão, mamãe”.
- Ai, meu Deus, ela mija cantando.
- É pra desestressar. Daqui a pouco a gente fica sabendo se nosso pimpolho vem aí e eu não quero que ele venha com cara de estressado.
- Ana, você nem sabe se ta grávida.
- Mas eu tenho espírito materno, ta?
- O que que deu?
- Falta um minuto.
- Ai....
- Fala alguma coisa amor, pra passar o tempo.
- Bem, que bom que o cliente é estrangeiro, porque em menos de dois minutos eu já falei “chuá”, “mija”, “urina”...
- Eu conheço uma gringa chamada Ulrina, trabalha no laboratório daqui.
- E eu já fiz consultoria pruma empresa chamada Flatus.
- Ai, que porqueira, Celso Henrique!
- Ué, é o nome, não posso fazer nada!
- Ahhhhhhhhhh, pelo que entendi, não to grávida!
- Certeza?
- Só deu um risquinho. Poxa vida.
- Amor, um dia o Celsinho vai vir, não era a hora dele. E também, ia ser esquisito, a gente se protege tanto.
- Amor, é que na verdade eu parei de tomar pílula.
- Ana, você ta louca? E você não me avisa!
- Você não percebeu? Poxa, eu emagreci!
- E desde quando engordar ou emagrecer tem a ver com pílula?
- Uma conhecida me falou que os hormônios da pílula fazem o organismo reter líquido.
- Com tanta tecnologia por aí, você acha que os cientistas não iam pensar nisto?
- Mas foi um cientista que falou!
- Quem?
- A Ulrina.
- Que ótimo. A Ulrina teorizando sobre retenção de líquido.

Alô

- Alô.
- Alô, Celso Henrique?
- Oi, amor, fala, mas fala rapidinho... to com um cliente aqui.
- Dispensa o cliente, preciso muito falar com você.
- É importante?
- É mais que importante.
- Olha, da última vez que você disse que era importante era porque seu salto quebrou no meio da rua.
- Mas quebrar o salto é importante! Você não sabe o inferno que passei naquele dia, mancando, com bolha no pé!
- Amor, fala...
- Não dá pra falar assim, é urgente.
- Se fosse urgente, você nem me deixava falar alô!
- To grávida.
- Quê?!
- Grávida.
- Eu entendi o que você disse... mas como?
- Um homem, uma mulher, óvulo, espermatozóide...
- Tá, tá tá, não precisa explicar assim!
- Sei lá, você falou como se estivesse esperando a história da cegonha!
- Ana, para de graça. Você tem certeza?
- Ta atrasada... duas semanas.
- Compra um teste de farmácia.
- Já comprei.
- E aí?
- E aí o quê?
- Que que deu?
- Ah, ainda não fiz não. Não consigo!
- Amor, como você disse, é urgente, tem que saber! Anda, toma uma água, abre a torneira, pensa em cachoeira, em rios, riachos, poça d’água, goteira, chuá, cascatas, chuá...
- Hehehe, “chuá”.
- Vamos, Ana!
- Eu já fiz isso tudo, mas é que to com nervoso de ter que fazer xixi naquele trocinho.
- Nervoso de quê?
- De fazer xixi e pingar na minha mão!
- É só lavar depois.
- Você ta acostumado, né, a pegar o “cano” e ter o xixi pertinho da sua mão, mas pra gente é diferente.
- Lava depois, passa álcool, esteriliza, mas mija logo.
- Ai, Celso Henrique, que vocabulário de pai você tem , hein? “Mija logo”... mulher faz xixi.
- Urina logo.
- Peraí.
- O que houve?
- To me concentrando.
- Ei, você não vai fazer xixi comigo na linha não! eu não quero ouvir nada! Depois você me liga!
- Não, amor, temos que estar juntos. É um momento crucial na nossa vida.
- É por isso que mulher vai no banheiro junto? Pra esperar a outra se concentrar? ... Ana? Ana?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Perguntas indignas de respostas

Há algum tempo, eu desenho. Há algum tempo, eu me interesso por tiras de jornal, principalmente do caderno Ilustrada da Folha. Há algum tempo, eu rabisco algumas tiras, que, "coincidentemente", são relacionadas ao mundo do cinema, no qual humildemente me insiro. E bota humildade nisso.

Pra inaugurar, a primeira tira totalmente digital - um arraso tecnológico (err... Macromedia Flash).