- Ana...
- Hum?
- Eu sei de tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo.
- Tudo o quê, Celso Henrique?
- Humpf, tá bom então.
- Bom o quê? O que que tá bom?
- Deixa.
- Agora fala.
- Nada.
- Nada?
- Aham.
- Pelo amor de Deus, antes era tudo, agora é nada!
- Ana, não adianta.
- Ai, Jesus, lá vem você.
- Tá vendo?
- Vendo o quê, homem de Deus?!
- Você. Tá nervosa. É um sinal de que se sente acuada.
- Ai. Dorme, Celso Henrique.
- ...
- ...
- Ana, olha como vc é...
- Sou o quê?
- A gente não consegue nem conversar como dois seres humanos adultos, que você já se altera toda.
- Celso Henrique, quem começou e terminou a conversa foi você!
- Eu? Se foi você que me mandou dormir!
- Mandei mesmo, você parece que é louco.
- Posso ser louco, mas não sou cego.
- Do que que você tá falando?!
- Já disse, eu sei de tudo.
- Tudo o quê, exatamente?
- Do seu casinho.
- Casinho?
-...
- Celso Henrique, eu não vou falar nada.
- É melhor mesmo não inventar explicações.
- Com quem eu teria um caso? Com o Vagner?
- Eu não citei nomes, na verdade isso nem é importante. Mas se você diz...
- Celso Henrique, eu conheço o Vagner há anos, você conhece o Vagner há anos e nós dois sabemos que ele é gay.
- Mas eu não disse que era ele.
- Quem então? O Marcelo, casadíssimo? Ou o Caio, que vive me dando patada?
- Ana, o nome não interessa. Eu sei. Simplesmente sei. E me admira muito você ter agido assim.
- Assim como, Celso Henrique?
- Aqui, na nossa casa, onde a gente planejava ter filhos.
- Quê? Você enlouqueceu?
- Eu encontrei o vinho, encontrei a lingerie. Tudo. A gente nunca foi destas coisas. E depois de cinco anos de casamento, você me dá essa punhalada pelas costas, enquanto eu trabalhava! É o fim da picada.
- Celso Henrique, você é muito idiota mesmo. Eu devia ter te traído, devia ter colocado dois galhos enormes na sua cabeça, porque aí você poderia colocar um faixa “i-di-o-ta” e todo mundo ia saber.
- Ahhhh, é???
- É sim! O vinho, as velas, a lingerie eram todos pra você. Ou você se esqueceu?
- Esqueci do quê?
- Ai, Senhor, dai-me paciência, porque se Você me der força, eu meto a mão no meu marido!
- Esqueci do quê?!
- Seis anos de casamento. Ontem.
- %$&*@
- ...
- Ana?
- Hum.
- Você tá chateada?
- To, claro que tô. Mas não é por isso.
- É porque então?
- Deixa.
- Fala.
- Não, não é nada.
- Fala, Ana.
- Tá, eu sei de tudo.
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